terça-feira, 9 de abril de 2013

A teia da dívida


INTRODUÇÃO: CAPTURADOS PELA ARANHA DA DÍVIDA 
por Ellen Hodgson Brown [*]
O presidente Andrew Jackson denominou o cartel bancário de "monstro de muitas cabeças, como a hidra a devorar a carne do homem comum". O presidente da municipalidade de Nova York, John Hylan, a escrever na década de 1920, chamou-a de "polvo gigante" que "captura nos seus longos e poderosos tentáculos nossos responsáveis executivos, nossos corpos legislativos, nossas escolas, nossos tribunais, nossos jornais e toda agência criada para a protecção pública". A aranha da dívida devorou propriedades agrícolas, lares e todos os países que ficaram presos na sua teia. Num artigo de Fevereiro de 2005 intitulado "A morte da banca" ("The Death of Banking"), o comentador financeiro Hans Schicht escreveu:
O facto de ao banqueiro ser permitido conceder crédito várias vezes superior à sua própria base de capital e de os carteis bancários, os bancos centrais, serem autorizados a emitir dinheiro de papel fresco em troca de papéis do tesouro, proporcionou-lhes almoços gratuitos para a eternidade... Através de uma rede de aranhas financeiras anónimas a tecerem a teia, apenas um punhado de Banqueiros Reis globais possui e controla isto tudo... Tudo, pessoas, empresas, Estado e países estrangeiros, todo se tornam escravos aprisionados ao Banqueiro pelos grilhões do crédito. [1]
Schicht escreve que durante a sua carreira teve oportunidade de observar as manigâncias das finanças a partir de dentro. O jogo ficou tão centralizado e concentrado, afirma ele, que a maior parte da banca e das empresas dos EUA está agora sob o controle de um pequeno grupo fechado de homens. Ele denomina o jogo de "aranhas tecelonas". As suas regras incluem:
  • Tornar invisível qualquer concentração de riqueza.
  • Exercer controle através de "alavancagem" – fusões, tomadas, cadeias partilhadas de holdings em que uma companhia possui acções de outras companhias, condições anexadas a empréstimos e assim por diante.
  • Exercer administração e controle pessoal duros, com um mínimo de iniciados (insiders) e de homens de fachada, os quais têm apenas um conhecimento parcial do jogo.
O falecido Dr. Carroll Quigley foi escritor e professor de história na Georgetown University e ali foi mentor do presidente Bill Clinton. O Dr. Quigley escreveu a partir do seu conhecimento pessoal acerca de uma clique de elite de financeiros globais empenhados em controlar o mundo. O seu objectivo, disse ele, era "nada menos do que criar um sistema mundial de controle financeiro em mãos privadas capaz de dominar o sistema político de cada país e a economia do mundo como um todo". Este sistema era "para ser controlado de um modo feudal pelos bancos centrais do mundo a actuarem em concertação, por acordos secretos".[2] Ele chamava a este clique simplesmente os "banqueiros internacionais". A sua essência não era raça, religião ou nacionalidade mas apenas uma paixão pelo controle sobre outros humanos. A chave para o seu êxito era que controlassem e manipulassem o sistema monetário de um país enquanto permitiam que ele parecesse ser controlado pelo governo.

Os banqueiros internacionais tiveram êxito em fazer mais do que simplesmente controlar a oferta monetária. Hoje eles realmente criam a oferta monetária, embora fazendo com que a mesma pareça ser criada pelo governo. Este esquema tortuoso foi revelado por Sir Josiah Stamp, director do Banco da Inglaterra e o segundo homem mais rico da Grã-Bretanha na década de 1920. Ao falar na Universidade do Texas em 1927, ele lançou esta bomba:
O sistema bancário moderno fabrica dinheiro a partir do nada. O processo é talvez a mais espantosa peça de prestidigitação alguma vez já inventada. A banca foi concebida na desigualdade e nasceu no pecado... Os banqueiros possuem a terra. Tome-a deles mas deixem-nos o poder de criar dinheiro e, com um toque de caneta, eles criarão bastante dinheiro para comprá-la outra vez... Retirem-lhes este grande poder e todas as grandes fortunas, como a minha, desaparecerão, e então isto seria um mundo melhor e mais feliz para nele viver... Mas se quiserem continuar a serem escravos de banqueiros e pagarem o custo da sua própria escravidão, então deixem os banqueiros continuar a criar dinheiro e controlar o crédito. [3]
O Professor Henry C. K. Liu é economista licenciado por Harvard e presidiu um departamento na Universidade da Califórnia-Los Angeles antes de se tornar conselheiro de investimento de países em desenvolvimento. Ele considera o actual esquema monetário como "farsa cruel". Quando acordarmos para este facto, afirma ele, toda a nossa visão económica do mundo precisará ser reordenada, "assim como a física foi sujeita a reordenamento quando a visão do homem mudou com a percepção de que a terra não é estacionária nem é o centro do universo". [4] A farsa é que não há virtualmente nenhum dinheiro "real" no sistema, apenas dívidas. Excepto para moedas, as quais são emitidas pelo governo e constituem apenas cerca de um milésimo da oferta monetária, toda a oferta monetária dos EUA consiste agora de dívida a bancos privados, pois eles criam o dinheiro com entradas nas suas contabilidades. Tudo é feito por prestidigitação e, como num truque de mágico, temos de assisti-lo muitas vezes antes de percebermos o que está a acontecer. Mas quando o fizermos, isto tudo muda. Toda a história tem de ser reescrita.

Os capítulos seguintes rastreiam a teia de enganos que nos afundou na dívida e apresenta uma solução simples que poderia tornar o país solvente outra vez. Não é uma nova solução mas remonta à Constituição: o poder de criar dinheiro precisa ser devolvido ao governo e ao povo que ele representa. A dívida federal poderia ser paga, os impostos sobre o rendimento poderiam ser eliminados e os programas sociais poderiam ser expandidos; e tudo isto poderia ser feito sem impor medidas de austeridade sobre o povo ou sem atear inflação galopante. Utópico como possa parecer, isto representa o pensamento de alguns dos melhores e mais brilhantes homens da América, históricos e contemporâneos, incluindo Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. Dentre outros factos impressionantes explorados neste livro destaca-se que:
  • O "Federal" Reserve não é realmente federal. É uma corporação privada possuída por um consórcio de bancos multinacionais muito grandes (Capítulo 13)
  • Excepto quanto a moedas, o governo não cria dinheiro. As notas de dólar (Federal Reserve Notes) são criadas pelo privado Federal Reserve, o qual empresta-as ao governo. (Capítulo 2)
  • A divisa tangível (moedas e notas de dólar) em conjunto constitui menos de 3 por cento da oferta monetária dos EUA. Os outros 97 por cento existem apenas como entradas de dados em écrans de computador, e todo este dinheiro foi criado por bancos na forma de empréstimos. (Capítulos 2 e 17)
  • O dinheiro que os bancos emprestam não é reciclado a partir de depósitos pré-existentes. É dinheiro novo, o qual não existe até ser emprestado. (Capítulos 17 e 18)
  • Trinta por cento do dinheiro criado pelos bancos com entradas na contabilidade é investido nas suas próprias contas. (Capítulo 18)
  • O sistema bancário americano, o qual no passado concedia empréstimos produtivos à agricultura e à indústria, tornou-se hoje uma máquina gigante de apostas. Uns estimados US$370 milhões de milhões (trillion) estão agora a cavalgar complexas apostas de alto risco conhecidas como derivativos – 28 vezes os US$13 milhões de milhões do produto anual de toda a economia dos EUA. Estas apostas são financiadas por grandes bancos dos EUA e são feitas em grande medida com dinheiro emprestado criado num écran de computador. Os derivativos podem ser, e têm sido, utilizados para manipular mercados, saquear negócios e destruir economias competidoras. (Capítulos 20 e 32)
  • A dívida federal dos EUA não tem sido liquidada desde os dias de Andrew Jackson [NR 1] . Só os juros são pagos, enquanto a parte principal continua a crescer. (Capítulo 2)
  • O imposto federal sobre o rendimento foi instituído especificamente para coagir os contribuintes a pagarem os juros devidos aos bancos sobre a dívida federal. Se a oferta monetária houvesse sido criada pelo governo ao invés de ser emprestada dos bancos que a criaram, o imposto sobre o rendimento teria sido desnecessário. (Capítulos 13 e 43)
  • Só os juros sobre a dívida federal em breve serão maiores do que os contribuintes podem permitir-se pagar. Quando não pudermos pagar, o sistema do dólar baseado na dívida da Reserva Federal deve entrar em colapso. (Capítulo 29)
  • Ao contrário d crença popular, a inflação rastejante não é provocada pela impressão irresponsável de dólares por parte do governo. É provocada pelos bancos que expandem a oferta monetária com empréstimos. (Capítulo 10)
  • A maioria das inflações galopantes vistas nas "repúblicas de bananas" foi provocada não por governos nacionais a imprimirem excesso de dinheiro e sim por especuladores institucionais globais a atacarem e a desvalorizarem-nas nos mercados internacionais. (Capítulo 25)
  • A mesma espécie de desvalorização especulativa poderia acontecer ao dólar dos EUA se os investidores internacionais o abandonassem como divisa global de "reserva, algo que eles estão agora a ameaçar fazer em retaliação pelo que entendem ser o imperialismo económico americano. (Capítulos 29 e 37)
  • Há um caminho para fora deste pântano. Os primitivos colonizadores americanos descobriram-no, tal como Abraham Lincoln e alguns outros líderes nacionais: o governo pode recuperar, tomando de volta, o poder de emitir dinheiro dado aos bancos. (Capítulos 8 e 24)
As Federal Reserve Notes dos banqueiros e as moedas do governo representam dois sistemas monetários separados que têm estado a competir pelo domínio ao longo da história registada. Houve tempo em que o direito de emitir moeda era o direito soberano do rei; mas aquele direito foi usurpado por agiotas. Hoje o soberano é o povo e as moedas, que constituem menos de um milésimo da oferta monetária, são tudo o que restou da nossa soberania monetária. Muitos países emitiram com êxito o seu próprio dinheiro, pelo menos durante algum tempo; mas o dinheiro-dívida dos banqueiros geralmente infiltrou o sistema e acabou por tomá-lo. Estes conceitos são tão estranhos em relação ao que nos tem sido ensinado que pode ser difícil envolver as nossas mentes em torno deles, mas os factos foram fundamentados por muitas autoridades confiáveis. Para citar umas poucas:

Robert H. Hemphill, Administrador de Crédito do Federal Reserve Bank of Atlanta, escreveu em 1934:
Estamos completamente dependentes dos bancos comerciais. Alguém tem de tomar emprestado todo dólar que temos em circulação, cash ou crédito. Se os bancos criam muito dinheiro sintético estamos prósperos; se não, passamos fome. Estamos absolutamente sem um sistema monetário permanente. Quando alguém obtém um domínio completo do quadro, o absurdo trágico da nossa posição sem esperança é quase incrível, mas ali está. Este é o assunto mais importante para pessoas inteligentes investigarem e reflectirem. [5]
Graham Towers, Governador do Bank of Canada de 1935 a 1955, reconheceu:
Bancos criam dinheiro. Isso é o que eles fazem... O processo de fabricação do dinheiro consiste em fazer uma entrada num livro. Isso é tudo... Cada vez que um banco faz um empréstimo... novo crédito bancário é criado – dinheiro novo em folha. [6]
Robert B. Anderson, Secretário do Tesouro no governo Eisenhower, disse numa entrevista publicada no número de 31/Agosto/1959 da U.S. News and World Report:
Quando um banco faz um empréstimo, ele simplesmente acrescenta à conta de depósito do tomador naquele banco a quantia do empréstimo. O dinheiro não é tomado do depósito de qualquer outra pessoa, ele não foi pago anteriormente ao banco por qualquer pessoa. É dinheiro novo, criado pelo banco para a utilização do tomador.
Michel Chossudovsky, Professor de Ciências Económicas na Universidade de Ottawa, durante a crise de divisas asiática de 1998 afirmou:
As reservas monetárias mantidas nas mãos de "especuladores institucionais" excedem de longe as limitadas capacidades dos bancos centrais do mundo. Este últimos, a actuarem de forma individual ou colectiva, já não são capazes de combater a maré de actividade especulativa. A política monetária está nas mãos de credores privados que têm a capacidade de congelar orçamentos de Estado, paralisar processos de pagamento, impedir o desembolso regular de salários para milhões de trabalhadores (como na antiga União Soviética) e precipitar o colapso de programas de produção e sociais. [7]
Hoje, as Federal Reserve Notes e os empréstimos em US dólar dominam a economia do mundo; mas esta divisa internacional não é dinheiro emitido pelo povo americano ou o seu governo. É dinheiro criado e emprestado por um cartel privado de banqueiros internacionais, e este cartel capturou os próprios Estados Unidos irremediavelmente numa teia de dívida. Em 2006, a dívida conjunta pessoal, corporativa e federal nos Estados Unidos atingiu uns estarrecedores 44 milhões de milhões de dólares – quatro vezes o rendimento nacional colectivo, ou US$147.312 para todo homem, mulher e criança no país.[8] Os Estados Unidos estão legalmente em bancarrota, definido no dicionário como ser incapaz de pagar as próprias dívidas, estar insolvente, ou ter passivos em excesso em relação a um valor de mercado razoável dos activos possuídos. Em Outubro de 2006, a dívida do governo dos EUA atingiu uma quantia de tirar o fôlego: US$8,5 milhões de milhões. Os governos locais, estaduais e nacional estão tão pesadamente endividados que têm sido forçados a liquidar activos públicos para satisfazer credores. Escolas apinhadas, estradas apinhadas e cortes nos transportes públicos estão a erodir a qualidade de vida americana. Um relatório de 2005 da American Society of Civil Engineers atribuiu à infraestrutura do país uma graduação global de D, incluindo suas estradas, pontes, sistemas de água potável e outras obras públicas. "Os americanos estão a gastar mais tempo paralisados no tráfego e menos tempo com as suas famílias", disse o presidente do grupo. "Precisamos estabelecer um plano abrangente e a longo prazo de infraestrutura" [9] Precisamos mas não podemos, porque o governo está arruinado a todo nível.
Dinheiro na Terra de Oz 


Se os governos por toda a parte estão em dívida, a quem devem? A resposta é que estão em dívida para com bancos privados. A "farsa cruel" é que os governos estão em dívida de dinheiro criado num écran de computador, dinheiro que poderiam eles próprios ter criado. O vasto poder adquirido através deste passe de mágica por uma pequena clique de homens a puxarem os cordéis do governo nos bastidores evoca imagens de O feiticeiro de Oz
[NR 2] , um conto de fadas clássico americano que se tornou uma rica fonte de imagens para comentadores financeiros. O editorialista Christopher Mark escreveu numa série intitulada "O grande engano":
Benvindo ao mundo do Banqueiro Internacional, o qual, tal como no famoso filme The Wizard of Oz, fica por trás das cortinas a orquestar os decisores da política nacional e internacional e os chamados líderes eleitos. [10]
O falecido Murray Rothbard, economista da escola clássica austríaca, escreveu:

Dinheiro e banca foram feitos aparecer como processos misteriosos e herméticos que devem ser guiados e operados por uma elite tecnocrática. Eles não são nada disso. Em matéria de dinheiro, ainda mais do que no restos dos nossos assuntos, temos sido trapaceados por um maligno Feiticeiro de Oz. [11]
Em 2002, num artigo intitulado "Quem controla o Sistema de Reserva Federal?", Victor Thorn escreveu:
Na essência, o dinheiro tornou-se nada mais do que ilusão – um número ou quantia electrónica num écran de computador. ... Com o andar do tempo, temos uma tendência crescente para sermos sugados dentro deste vórtex de irrealidade do Feiticeiro de Oz [por] sacerdotes-mágicos que utilizam a ilusão do dinheiro como seu dispositivo de controle. [12]
James Galbraith escreveu em The New American Prospect:
Nós ficamos ... com a ideia de que o Federal Reserve Board não sabe o que está a fazer. Isto é a teoria "Feiticeiro de Oz", na qual afastamos as cortinas só para encontrar um velho com uma face enrugada, a brincar com luzes e alto-falantes. [13]
As analogias com O feiticeiro de Oz funcionam por uma razão. Segundo os mais recentes comentadores, o conto escrito realmente como uma alegoria monetária, numa época em que a "questão monetária" era um assunto chave na política americana. Na década de 1890, os políticos ainda estavam a debater apaixonadamente quem deveria criar o dinheiro do país e do que ele deveria consistir. Deveria ser criado pelo governo, com plena responsabilização para com o povo? Ou deveria ser criado por bancos privados por trás de portas fechados, para as finalidades privadas dos próprios bancos?

William Jennings Bryan, o candidato Populista à presidência em 1896 e novamente em 1900, montou o último desafio sério ao direito de banqueiros privados criarem a oferta monetária nacional. Segundo os comentadores, Bryan foi representado por Frank Baum, em 1900, no livro The Wonderful Wizard of Oz by the Cowardly Lion. O Leão finalmente provou que era o Rei dos Animais ao decapitar uma aranha gigante que aterrorizava todos na floresta. A aranha gigante que Bryan desafiava na viragem do século XX era o cartel bancário Morgan/Rockefeller, o qual pretendia usurpar o poder de criar o dinheiro do país ao povo e ao seu governo representativo.

Antes da I Guerra Mundial, dois sistemas opostos de economia política competiam pelo predomínio nos Estados Unidos. Um operava a partir da Wall Street, o distrito financeiro de Nova York que veio a ser o símbolo das finanças americanas. O seu endereço mais importante era Wall Street 23, conhecido como a "Casa de Morgan". J. P. Morgan era um agente de poderosos interesses britânicos. Os Feiticeiros da Wall Street e os banqueiros do Velho Mundo a puxarem seus cordões procurando estabelecer uma divisa nacional que fosse baseada no "padrão ouro", uma divisa criada de forma privada pela elite financeiro que controlava o ouro. O outro sistema remontava a Benjamin Franklin e operava a partir de Filadelfia, a primeira capital do país, onde foi efectuada a Convenção Constitucional e a "Society for Political Inquiries" de Franklin planeou a industrialização e obras públicas que libertariam a nova república da escravidão económica à Inglaterra. [14] A facção de Filadelfia favorecia um banco de acordo com o modelo estabelecido na provinciana Pennsylvania, onde um gabinete estadual de empréstimos emitia e emprestava dinheiro, arrecadava os juros e devolvia-o ao governo provincial para ser utilizado no lugar de impostos. O presidente Abraham Lincoln retornou ao sistema colonial de dinheiro emitido pelo governo durante a Guerra Civil, mas ele foi assassinado e os banqueiros reclamaram o controle da máquina do dinheiro. O golpe silencioso da facção da Wall Street culminou com a aprovação do Federal Reserve Act em 1913, algo que eles alcançaram enganando Bryan e outros congressistas desconfiados levando-os a pensar que o Federal Reserve era realmente federal.

Hoje, o debate sobre quem deveria criar a oferta monetária nacional é ouvido raramente, principalmente porque poucas pessoas percebem mesmo que isso é uma questão. Políticos e economistas, assim como toda a gente, simplesmente assumem que o dinheiro é criado pelo governo e que a "inflação" de que todos se queixam é provocada por um governo fora de controle que faz correr as impressoras do dólar. Os mestres dos fantoches que trabalhavam a máquina do dinheiro eram mais visíveis na década de 1890 do que são hoje, em grande medida porque eles ainda não haviam tido êxito em comprar os media e dominar a opinião pública.

A teoria económica é um assunto árido e amedrontador que foi tornado intencionalmente complexo pelo interesse dos bancos em esconder o que realmente está a acontecer. É um assunto que precisa de esclarecimento urgente, com imagens, metáforas, personalidades e um enredo. Assim, antes de entrar nos tediosos pormenores do sistema moderno de dinheiro-baseado-sobre-dívida, efectuaremos uma excursão ao passado, a um tempo mais simples, quando as questões monetárias eram mais óbvias e ainda assim tópico de discussões candentes. A linha mestra do enredo de O feiticeiro de Oz foi traçada para a primeira de sempre marcha sobre Washington, liderada por um obscuro homem de negócios de Ohio que em 1894 procurou persuadir o Congresso a retornar ao sistema de Lincoln de dinheiro emitido pelo governo. Além de disparar um século de marchas de protesto e o mais famoso conto de fadas do país, este visionário pouco conhecido e o bando de desempregados que ele liderou podem realmente ter tido a solução para todo o problema monetário, então e agora.
NR 1: Andrew Jackson: 7º presidente dos Estados Unidos (1829-1837)
NR 2: O Feiticeiro de Oz, filme de 1938 estrelado por Judy Garland (baseado num livro de 1901 de L. Frank Baum)


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Conteúdo de A teia da dívida
Sumário/Agradecimentos
Prefácio, por Reed Simpson, Banker and Developer
Introdução: Capturado pela aranha da dívida

Secção I – A ESTRADA DE LADRILHOS AMARELOS: DO OURO ÀS FEDERAL RESERVE NOTES
1- Lições de O feiticeiro de Oz
2- Por trás da cortina: O Federal Reserve e a dívida federal
3- Experimentos em utopia: Papel-moeda colonial como moeda de curso legal
4- Como o governo foi persuadido a tomar emprestado o seu próprio dinheiro
5- Dos matriarcado da abundância aos patriarcados da dívida
6- Puxando os cordéis do rei: Os agiotas tomam a Inglaterra
7- Enquanto o Congresso cochila em campos de papoulas: Jefferson e Jackson tocam o alarme
8- Espantalho com cérebro: Lincoln frustra os banqueiros
9- Lincoln perde a batalha com os mestres das finanças europeias
10- A grande impostura: O padrão ouro e o homem de palha da inflação

Secção II – OS BANQUEIROS CAPTURAM A MÁQUINA DO DINHEIRO
11- Nada como o lar: A combater pela propriedade agrícola familiar
12- Cabeça pretensiosas e mãos invisíveis: O governo secreto
13- Reunião de bruxas: O caso da Ilha Jekyll e o Federal Reserve Act de 1913
14- A domar o leão: O imposto federal sobre o rendimento
15- Graves consequências: A Grande Depressão
16- A lubrificar as juntas enferrujadas da economia: Roosevelt, Keynes e o New Deal
17- Wright Patman revela a máquina do dinheiro
18- Um olhar ao manual do Fed: "Modern Money Mechanics"
19- Ataques de ursos e short sales: A devorar mercados de capitais
20- Hedge Funds e derivativos: Um cavalo de cor diferente

Secção III – ESCRAVIZADOS PELA DÍVIDA: A REDE DOS BANQUEIROS ESTENDE-SE A TODO O GLOBO
21- Adeus estrada de ladrilhos amarelos: Das reservas ouro aos petrodólares
22- A armadilha tequila: A história real por trás da estranha invasão ilegal
23- A libertar os winkies amarelos: O sistema da nota verde floresce lá fora
24- Maldição ridicularizada: "Alemanha financia uma guerra sem dinheiro"
25- Outro olhar à trapaça inflacionária: Alguns "manuais" de hiper-inflações revisitados
26- Campos de papoila, guerras do ópio e tigres asiáticos
27- A despertar o gigante sonolento: O sistema da nota verde de Lincoln vai para a China
28- A recuperar a jóia do Império Britânico: Movimento popular toma a Índia

Secção IV – A ARANHA DA DÍVIDA CAPTURA A AMÉRICA
29- O trabalho duro do Tin Man: Servidão da dívida para os trabalhadores americanos
30- O isco na armadilha da dívida do consumidor: a ilusão da propriedade do lar
31- A perfeita tempestade financeira
32- No olho do ciclone: Como a crise dos derivativos paralisou o sistema bancário
33- Mantendo a ilusão: A amarrar mercados financeiros
34- Colapso: A bancarrota secreta dos bancos

Secção V – OS CHINELOS MÁGICOS: RECUPERAR O PODER MONETÁRIO
35- A progredir da escassez para a abundância tecnicolor
36- O Movimento da Divisa Comunitária: Evitar a teia da dívida com divisas "paralelas"
37- A questão do dinheiro: Debate entre os defensores do ouro e os da nota verde
38- A dívida federal: Um caso de pensamento desorganizado
39- Liquidar a dívida federal sem provocar inflação
40- O dinheiro "helicóptero": O novo balão de ar quente do Fed

Secção VI – VENCER A ARANHA DA DÍVIDEA: UM SISTEMA BANCÁRIO QUE SIRVA O POVO
41- Restaurar a soberania nacional com um sistema bancário verdadeiramente nacional
42- A questão do juro: Ben Franklin resolver o problema do contrato impossível
43- Salvamento, compra de controle accionário ou tomada corporativa? Bater os Barões Ladrões no seu próprio jogo
44- O conserto rápido: O governo que paga a si próprio
45- O Tin Man ganha coragem: Resolver o problema da dívida do Terceiro Mundo
46- Construir uma ponte: Rumo a um novo Bretton Woods
47- Sobre o arco-íris: Governo sem impostos ou dívida

Glossário
Bibliografia seleccionada e leituras sugeridas
Notas
Index

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[*] Foi promotora em Los Angeles, autora de 11 livros, viveu em países do Terceiro Mundo. ellenhbrown@gmail.com

O original encontra-se em
http://www.webofdebt.com/

MERCADOS & SOLIDARIEDADE


Entendo que vale a pena reflectir sobre as questões do mercado e da solidariedade. Para isso vou procurar centrar-me sobre a seguinte questão, o mercado pode ser solidário? Naturalmente que estas são tão só algumas pistas não suficientemente elaboradas, que extravasam o tema em análise e valem o que valem. Trata-se apenas de um simples contributo para que outros se debrucem sobre o assunto, o aprofundem e reflictam sobre ele. E isto porque partilho a opinião de que se deve teorizar sobre a nossa prática e levar à prática essa teoria, numa relação constante.

Antes do mais, devo evidenciar a minha posição sobre aquilo a que se convencionou chamar crise, uma vez que essa mesma crise está umbilicalmente ligada aos “mercados” e aos apoios, mais ou menos solidários que, a propósito da atenuação dos efeitos da dita crise, se desenvolvem a vários níveis e em diversos locais.

A crise actual é, em minha opinião, constituída por várias crises. Temos, por exemplo, a crise da dívida soberana na Europa, a mais badalada e, entre nós, apelidada de “A Crise”, que tudo justifica, mesmo as maiores malfeitorias sobre as populações. Ora essa crise da dívida soberana, isto é, aquela que é assumida junto dos credores externos pelo Estado, é, antes do mais, o resultado de uma outra crise, a económica. A esta acrescem as assimetrias causadas pelo próprio formato e regras da União Europeia, desde a sua criação e mais acentuadamente a partir de Tratado de Mastrich, que aprofundou as gritantes desigualdades já à partida existentes entre os diversos estados da União.

Concretizando, e de forma muito resumida, o projecto da União Europeia é fundamentalmente um projecto que visa promover a união e o crescimento dos capitais europeus, um projecto destinado a favorecer o desenvolvimento das empresas da Europa comunitária, fundamentalmente das grandes e mais modernizadas empresas, as quais se situam esmagadoramente nos estados mais desenvolvidos e poderosos do continente.

Convém reforçar esta premissa, a finalidade da União Europeia, desde a sua criação até hoje, é a criação de condições que possibilitem o desenvolvimento e a reprodução do capitalismo europeu, embora esse “capitalismo europeu”  nunca tenha existido enquanto tal  e continue a não existir. O que existe é o capitalismo dos diferentes países europeus, embora a livre circulação de capitais tenha conduzido a uma internacionalização capitalista europeia, e de todo o planeta, cada vez maior. Apesar deste panorama, as grandes empresas internacionais que dominam os diversos sectores da economia, continuam a sentir a necessidade do apoio do”seu” estado de origem, da matriz que lhes fornece o indispensável suporte para levarem à prática as suas respectivas actividades, fundadas no domínio e na exploração.

Quanto aquilo que diz respeito à melhoria das condições de vida das populações, assim como a uma solução efectiva dos problemas de ordem ecológica, migratória, de combate e anulação das assimetrias educacionais, culturais, regionais e de toda ordem, só se torna atractiva se corresponder aos interesses do capital. Tais melhorias, convém salientar, são custeadas através do erário público, o que face à actual crise generalizada se torna cada vez mais difícil de prosseguir, em virtude da redução da arrecadação de impostos por parte do Estado. Isto porque as finanças públicas se ressentem do  agravamento na arrecadação de impostos, actualmente muito mais reduzido em consequência da menor actividade económica e também  como consequência das isenções fiscais prodigalizadas ao capital e património, particularmente às grandes empresas e fortunas. Recorde-se que durante o período de crescimento do capitalismo na Europa, o capital não colocava entraves à aplicação de parte das receitas fiscais em apoios sociais e de outra ordem, enquanto hoje, na actual situação de penúria, agravada por eles próprios, os mesmos porta vozes do capitalismo e os seus papagaios amestrados se afadigam em diatribes contra as despesas de carácter social.


Por outro lado, a forma como foi concebida e organizada a União Europeia e em particular a implementação essencialmente política do euro, teria necessariamente de levar ao aproveitamento das oportunidades de concentração, de livre circulação e de escala, por parte daqueles que tinham dimensão, capacidades financeiras, tecnológicas, de infra-estruturas e de toda a ordem para as aproveitarem, ou seja, as empresas e regiões mais poderosas e capacitadas para recolher benefícios provenientes de uma moeda e espaço económico único, enquanto que os restantes teriam fatalmente de acentuar a dependência face aos mais poderosos e estagnarem ou mesmo regredirem. Este é o corolário da organização social hierarquizada em que se fundamenta o sistema capitalista. Por isso mesmo as regiões e estados onde se concentram as empresas e sectores económicos de maior valor acrescentado e maior produtividade, dão origem a regiões e estados com orçamentos mais equilibrados, beneficiando ainda de uma fiscalidade de grau superior e mais eficiente comparativamente aos estados mais débeis. 


Devido à mesma ordem de razões, resulta também natural que aqueles estados que não possuem semelhantes vantagens comparativas sigam as modas, estilos e símbolos em uso nos países de capitalismo maduro, importando equipamentos e toda a espécie de produtos e serviços considerados modernos e mais conformes à afirmação de poder na organização hierárquica que preside a esta sociedade de classes. Como consequência, os seus aparelhos produtivos estiolam face à concorrência externa que apresenta produtos mais baratos e atractivos, tanto tecnológica como simbolicamente. Assim vão acumulando deficits comerciais e ficam na dependência do indispensável financiamento obtido em bancos dos países excedentários, para conseguirem equilibrar as suas contas externas. Esta dependência impõe-se e agrava-se, uma vez que a poupança interna é reduzida e ainda por cima emigra para destinos mais atractivos e lucrativos no exterior. As mais das vezes para paraísos fiscais, e ou para os mesmo estados que beneficiam desta engrenagem de dependência, voltando por vezes à origem, sob a forma de capitais externos com destino a empréstimos com elevados juros cobrados ao estado de onde eram originários. O resultado destas operações, é o acentuar do serviço da divida e da dependência financeira face ao exterior.

 Foi isto que aconteceu em Portugal, um país integrado numa zona económica de moeda forte, no entanto dotado de mais baixa produtividade face aos seus concorrentes e fiscalidade inapropriada, pois que nestas áreas tal como na orçamental não há uniformidade na União, daí resultando o agravamento da dependência, como é usual na selva económica, onde os peixes grandes comem os peixes pequenos.

Mas este é um problema que já extravasou os países dependentes, tornando-se um problema de difícil resolução para a própria União Europeia, porque os enormes deficits acumulados pelos países dependentes do exterior, como Portugal, não se limitam em envolvê-los na espiral da dívida. E isto porque esses valores correspondentes aos deficits são potenciados pelas sofisticadas manobras modernas de especulação do mercado financeiro, onde os especuladores, representados sobretudo por bancos, fundos de investimento e de pensões, ou operadores especuladores por eles financiados, procedem a inúmeras operações de compra e venda no mercado secundário de títulos de dívida, disseminando e multiplicando desta forma o seu valor original que atinge valores gigantescos. Este é um resultado inevitável de semelhante multiplicação da dívida, embora seja obscurecida por um mercado pouco transparente, que no entanto não pode escamotear semelhante realidade, á qual terá de se acrescentar um cenário idêntico originado com os seguros dessas operações de crédito, ou CDS’s. Estamos deste modo perante um problema de muito difícil ou mesmo impossível resolução, uma vez que os credores especuladores não têm capacidade financeira para o resolver e os estados, aos quais recorrem sempre para suprir as suas carência, também se encontram submersos em problemas da mesma ordem.

Perante semelhante panorama restam duas saídas possíveis, embora meramente conjunturais. Um recurso a empréstimos junto de financiamentos com origem em fundos exteriores da União, por parte dos estados e instituições europeias, o que tem sido tentado sem grande êxito, nomeadamente junto da excedentária China. Ou, numa tentativa desesperada, a emissão de papel moeda muito para além da massa monetária necessária. Este é um caminho seguido pelos EUA, a par do seu gigantesco endividamento externo, mas a altamente provável inflação daí resultante, assim como o domínio da Alemanha na Europa, e o seu receio de perder esse controlo da União com as consequências de semelhante operação, alia-se ao receio de uma inflação galopante, o que tem levado a União Europeia, com a Alemanha à cabeça, a recusar tal opção.

Hoje, perante a concorrência internacional em todas as áreas, que impõe aos    capitalistas, tanto europeus como dos  restantes continentes, a necessidade de se concentrarem nos seus negócios de base e mais lucrativos, são abandonadas quaisquer pretensões niveladoras social democratizantes que pudessem aflorar na mente de alguns políticos, uma vez que na actual situação o objectivo essencial dos estados é salvar o sistema e assegurar a sua sobrevivência. Por esse motivo são abandonados quaisquer objectivos ligados às condições de vida das populações, daquilo que antes propagandeavam como um factor da “paz social”. As tarefas ligadas a esses objectivos são agora remetidas para a igreja e outras instituições de caridade, apoiadas, em escala  crescente, pela estigmatização dos pobres e repressão policial,  largamente acompanhada pela propaganda mais descarada, geralmente alcunhada de comunicação social.

Acresce que o capitalismo enfrenta hoje uma série de desafios de vária ordem.. E que não são apenas aqueles decorrentes da recomposição dos actores do domínio e da exploração, com a emergência de novos centros de exploração na Ásia, particularmente na China, mas também os resultantes do  desenvolvimento dos meios de produção e controlo automáticos, que extinguem cada vez mais milhões de postos de trabalho, com o consequente crescimento de multidões cada vez maiores de desempregados ou empregados a título precário.

A conjugação destes dois factores, ou seja, da produção automatizada acompanhada pela deslocalização de imensas unidades de produção, tem levado ao encerramento de inúmeras empresas na Europa e nos EUA, muitas das quais emigram para essas zonas dotadas de atractivos custos de produção substancialmente mais reduzidos. Estas deslocalizações são acompanhadas, repito, pela substituição em massa de enormes quantidades de trabalho humano, trocado por máquinas cada vez mais sofisticadas e dispendiosas, o que conduz o capital europeu, e norte-americano, a uma nova e complicada situação. Ou seja, a de se depararem cada vez mais com a redução das mais-valias provenientes da exploração do trabalho humano, acompanhadas de custos crescentes com o equipamento moderno, conduzindo às consequentes reduções das taxas de lucro em numerosos sectores.

Para atenuar isso mesmo, na Europa como nos EUA, o capital emigrou para a especulação financeira da economia de casino, onde as operações mais fantasiosas e os consequentes lucros se multiplicam. De tal forma que ainda hoje, apesar do estoiro de há 3 anos atrás, as operações desta índole representam anualmente 87 vezes mais do que a produção mundial (PIB mundial).

Mas, também aqui, depois do estoiro financeiro de há 3 anos, a situação se tornou muito mais complicada e arriscada. No entanto, enquanto a especulação financeira prossegue e os bancos e congéneres conseguem todo o apoio e benesses dos estados, a estratégia do capital passou a privilegiar a apropriação de parte do rendimento directo ou indirecto dos trabalhadores, que é insistentemente reclamado e encaminhando para o capital. É esta a principal  função utilitária da crise para benefício do capital e, a meu ver, o seu aspecto básico. Estamos perante uma ofensiva destinada à redução da parte do rendimento directo e indirecto do trabalho para beneficiar os lucros do capital. O empobrecimento de extensas camadas das populações, constitui a principal crise, aquela que as populações sentem e sofrem.

De certo modo pode afirmar-se que a questão de “A crise” trata-se de um falso problema, um álibi utilizado através da cobertura do manto de fantasia tecnocrático, apresentado como científico e inevitável e encoberto pela proveniência na incensada e esfíngica economia, mas que na realidade encobre um ataque sistemático ao rendimento dos trabalhadores. Trata-se, por isso mesmo, principalmente de uma questão política, do domínio e da opressão exercido pelas classes dominantes sobre as populações.

 A crise constitui um magnífico pretexto destinado a justificar a contra-revolução em curso, através da qual o capital, apoiado pelos seus títeres da política profissional, não só se vai apropriando de massas enormes de dinheiro, como justifica a sua acção (é por causa de “A crise”, repetem massivamente) E, talvez ainda mais importante, deste modo o capital vai moldando toda a sociedade aos seus interesses, incluindo parcelas importantes da grande maioria, os explorados e oprimidos.

Perante semelhante ataque e as habituais medidas restritivas impostas pelos credores usurários, que sistematicamente obrigam a cortes nas despesas sociais, e nos salários, ao mesmo que aumentam os tempos de labor, os impostos e os preços de bens e serviços essenciais, a consequente recessão instala-se e o deliberado empobrecimento de largos milhões de pessoas torna-se inevitável.

Face à miséria crescente em Portugal, com tendência para se agravar cada vez mais, qual a resposta por parte dos agentes de domínio e de exploração, do estado, partidos, igreja e “missionários” das mais diversas estirpes? O sacrifício necessário e a caridade! Caridade que sempre refulge quando a justiça não constitui uma prioridade. E actualmente a justiça social constitui um ódio de estimação do estado e capitalistas, diligentemente ampliada pelos arautos engordados a peso de ouro da propaganda conexa.  

Ora bem, uma pretensa solidariedade, caritativa, conventual, criadora de dependências e potenciadora de submissão, constitui um poderoso instrumento de todas as forças obscurantistas que nos atacam.

Se atendermos ao facto da solidariedade só ser real quando é praticada entre iguais, porque as diferenças hierárquicas geram dependência e submissão, talvez seja melhor, a utilização do termo economia alternativa, ao invés de solidária.

Quanto à expressão “mercados” muito haveria para dizer. Também aqui me limito ao que julgo essencial.

O mercado é apresentado em economia, como um espaço ideal onde os compradores e vendedores se confrontam em igualdade de circunstância e sem vantagens comparativas, estabelecendo entre eles um preço justo para a compra do bem ou serviço. Acresce que este mercado perfeito terá de possuir a transparência que permita a todos intervenientes conhecerem os diversos preços em confronto, a sua formação e a sua qualidade, sendo acompanhado, este mercado ideal, pela atomicidade dos actores, isto é, terão de ser muitos intervenientes e de pequena escala. Naturalmente que nada disto se passa na vida real, por isso se fala em mercado imperfeito. Mas este é de tal forma imperfeito, para não dizer inexistente, que todos os sectores da economia são dominados por um oligopólio de gigantescas empresas, gravitando à sua volta uma constelação de pequenas empresas dependentes da respectiva empresa mãe. Quanto à dita transparência, prima como sabemos, pela maior opacidade possível, pese embora a tremenda propaganda destinada a distorcer a realidade que as grandes companhias produzem para modelarem as mentes e desejos das populações com os atributos mais ou menos ficcionados da sua imagem.

Para alem disto, julgo que a corriqueira utilização do termo “mercado” para   classificar os interesses capitalistas dos diversos sectores, nomeadamente do financeiro, através de expressões como “os mercados financeiros reagiram mal…”, fazem parte da autêntica novílingua em vigor, que pretende escamotear as relações de domínio  inerentes a esta  sociedade  de classes. Deste modo é possível manter no anonimato os interesses dos capitalistas da finança e dos restantes sectores, remetendo toda a responsabilidade dos acontecimentos desastrosos suportados pelo povo para uns anónimos mercados, únicos responsáveis pelos desastrosos resultados que a intocável economia nos reserva. E a compreensão dos desígnios dos tais mercados só estará ao alcance dos especialistas, economistas e outros sacerdotes do capital.

O mercado constitui afinal um conceito base da sociedade de classes em que vivemos, que fundamenta e condiciona a opressão e exploração de que somos vítimas. É um sustentáculo da compre e da venda, do negócio e do lucro, o bem supremo desta organização social. É esse mercado, ao contrário daquilo  que repete a  propaganda em vigor, referindo-se  ao mercado livre, que  de livre nada tem senão a liberdade de comprar e vender para os que têm dinheiro, que dá forma à mercadoria, isto é, aquilo que se compra e se vende. E entre todas, a mercadoria suprema, o dinheiro, que nesta organização social dá forma à vida, ou melhor à imitação de vida em que nos encontramos mergulhados. Uma vida em que o fetiche supremo, aquilo que tudo domina e obscurece as relações entre as pessoas e todos os seus sentimentos, é o dinheiro, esse encobridor de relações que esconde e falsamente substitui as interações humanas e do homem com a natureza.

Nesta forma de organização social todos somos forçados a submeter-nos às leis do fetiche dinheiro, a ele dedicamos as nossas vidas e por ele trabalhamos, lutamos e morremos, porque nesta imitação de vida as relações humanas são mediadas pelo dinheiro, não podemos viver sem ele.

Por tudo isto, sou levado a perguntar, se é possível um mercado solidário? Em meu entender há aqui uma contradição de termos, se é mercado não pode ser solidário. A menos que cada um destes termos esteja alterado. Isto é, se nos referimos a algo onde não se pratica a compra e a venda mas sim a troca e a partilha e onde o lucro deixou de ser o móbil do seu funcionamento. Nesse caso não é um mercado.

E também, se a solidariedade não é mais um acto de apoio mútuo que se pratica entre iguais, para passar a ser uma relação de caridade, de dependência. Também aqui não se trata de solidariedade.

Daqui concluo que, se falamos de algo classificado como mercado no qual impera a solidariedade e apoio mútuo, estamos em presença de uma coisa diferente, de um não mercado baseado na solidariedade entre os seus intervenientes.

Nesta perspectiva, talvez fosse preferível falarmos nestes casos de Feira de Economia Alternativa, pois de alternativas à economia se trata, de criar novas formas de relacionamento nas áreas de produção e consumo, que não sejam baseadas no lucro, na exploração e no domínio do outro, mas sim na apoio mútuo e na satisfação das necessidades de cada um e da sociedade.

MANIFESTO POR UM PAÍS LIVRE DE POBRES


POBRES, NÃO! ESTRANGEIROS, NUNCA! ANARQUISTAS, JAMAIS!

Acabou, finalmente, a pobreza, a pedincha e a anarquia dos mesmos de sempre.
Nasce uma Nova Sociedade, inspirada pelo pequeno grande Sarkozy e regida pela ciência aritmética dos mercados, pelas inspiradas leis da indústria, comércio e finança!
Agora, todos os pobres, todos os estrangeiros, os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados terão um rumo a seguir. Criaremos novas normas, uma nação nova, leis que todos terão de seguir, de forma ordeira e exemplar, segundo o modelo 2177-A do Diário da Republica - IIª série.  Os pobres, os estrangeiros, os anarquistas e os demais, serão examinados cuidadosamente nos Laboratórios da Direcção Geral dos Assuntos Fiscais, para avaliar do seu estado físico, mental e, sobretudo, financeiro.
Os que merecerem a aprovação dos Serviços serão devidamente normalizados, desinfectados e hermeticamente fechados!
O critério fundamental para a aprovação prende-se com a saúde financeira de cada espécimen, de acordo com as seguintes regras:
1 – Só é permitida a estadia em Portugal, aos estrangeiros com emprego, que não tenham dívidas de qualquer espécie, como por exemplo, renda de casa, merceeiro, água, luz, telefone, prestações de carro e electrodomésticos. Também incorrem em expulsão os indivíduos de nacionalidade estrangeira que procurem eximir-se ao pagamento do transporte colectivo, da quota do seu clube de futebol ou qualquer outro pagamento.
2- Todos os pobres nacionais que não tenham emprego, ou incorram em dívidas descritas no ponto 1, perderão a nacionalidade portuguesa.
3 – Não é permitida a estadia em Portugal a indivíduos sem nacionalidade definida.
4 – Todos os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados, serão submetidos a exames periódicos por parte do Observatório de Segurança.
5 – Todos os indivíduos referidos em 4, que não corresponderem aos parâmetros estabelecidos pelo Observatório de Segurança, particularmente por representarem um perigo para a ordem pública e a tranquilidade dos espíritos ou se revelarem pobres, perderão a nacionalidade portuguesa.
Todos os indivíduos que sejam expulsos do país, terão direito a uma passagem de avião, só de ida.
Os processos de expulsão democrática serão integrados num nível de gestão industrial, organizada e gerida como uma fábrica de enchidos!!!
Expulsões sim; mas muito humanas, com licença e autorização.
Expulsões, sim; mas homologadas pela ASAE e restantes organismos oficiais
Expulsemos os pobres, os heréticos, os anarquistas e demais espécimen deste tipo e marchemos, cantando e rindo, com as carteiras recheadas!
Mais uma vez daremos o exemplo ao mundo. Construiremos um mundo asséptico e inodoro, onde não cabem os pobres, os estrangeiros se forem pobres, e todos os revoltosos. Todos aqueles que não dão garantias de solvabilidade não interessam à nossa Pátria.
Todos terão de se submeter às leis supremas do mercado.
Só importam os úteis, produtivos e rentáveis!!!

       DIRECÇÃO GERAL DA COLONIZAÇÃO DAS MENTES

quinta-feira, 28 de março de 2013

O imposto de palhota e outras rapinagens

As classes dominantes, estribadas num saber refinado ao longo de séculos, preparam-se para nos fazer pagar os seus desvarios e ociosidades com um exacerbado IMI.
Os capatazes desta pátria de negreiros seguem à risca os ditames dos seus antecessores. Daqueles que na Inglaterra encerravam nas Casas dos Pobres os desnudados de terras e de posses, forçados a trabalhar dia e noite com um único móbil, o enriquecimento dos patrões. Ou dos seus sucessores em plena ditadura salazarenta, que açulavam a polícia a perseguir os habitantes da serra da Estrela, operadores de teares manuais em suas casas, atormentando-os com a extorsão, o roubo e a prisão para eliminar a concorrência e obter mão-de-obra dócil e a baixo custo para a indústria têxtil.
Foi gente de semelhante estirpe que, nas colónias africanas, maquinou o imposto de palhota, destinado a acorrentar a população. Sobre a habitação tradicional, construída pelos próprios na sua terra, passou a incidir um imposto, para que lhes fosse consentido habitá-la! As autoridades, raivosas face à autonomia das populações, assente na economia de subsistência que o uso ancestral das férteis terras comunitárias lhes permitia, decidiram inverter a situação. Para isso fizeram uso de um hábito tão velho quanto o Estado, a imposição do imposto. E semelhante rapina teria fatalmente de ser satisfeita em dinheiro. Na ausência do vil metal só restava àquelas esbulhadas gentes uma saída, o trabalho nas plantações coloniais, a venda da força de trabalho a baixo custo, para conseguirem o dinheirame infligido pela canga fiscal.
Estavam criadas as novas vítimas da sociedade mercantil, subitamente envolvidas na espiral da necessidade de algo que até ali desconheciam, o dinheiro e a sociedade da mercadoria que o impõe. Tratou-se, de facto, de um importante passo naquilo que a desvergonha reinante classifica como um acto civilizador. Acresce que essa intriga foi montada na ausência da escravatura, (falsamente) extinta no início do século XIX: o salariato, a escravatura moderna, envolvia toda a humanidade.
Nos dias de hoje somos acossados pelos mandarins hodiernos cada dia com mais impostos, chupistas do fruto do nosso trabalho, quando o alcançamos: não satisfeitos com o saque generalizado sobre as carteiras do forçado contribuinte, os sobas em exercício resolveram recriar o imposto de palhota. Sem a imposição do trabalho assalariado, face à sua raridade, mas com as mesmas perversidades. Ou seja, o temor do amo, que flagela os seus servos com a imolação da precariedade e do desemprego, o pavor do cobrador de impostos, ou a concorrência entre desgraçados e a obediência suportada pelo medo.
A última trapaça dos novos caudilhos é o abrutado aumento do imposto sobre a habitação, o IMI. Num país onde a política habitacional, favorável à especulação imobiliária e à ganância bancária, impede a criação de habitação para aluguer, quase todos são proprietárias, embora apenas da casa onde residem. Todos estes proprietários, com dificuldades crescentes para o pagamento da prestação mensal ao banco, cada dia maior face aos salários aceleradamente reduzidos, deparam hoje com um novo pagamento, o actualizado IMI, que os “nossos queridos líderes” decidiram aumentar para meio por cento do valor matricial da habitação.
E isto representa muitas centenas de euros, nada menos que 500 euros anuais por cada 100.000 euros do valor do registo da habitação. Imagine-se uma casa adquirida por 150.000 euros: pois, agora, os seus “proprietários” terão de pagar um imposto anual de nada menos que 750 euros – embora, devido à queda do preço especulativo do imobiliário, seja actualmente atribuído ao apartamento um valor de cerca de 90.000 euros. Estamos, ou não, em presença de um novo imposto de palhota, que nos obriga a cortar em despesas indispensáveis para podermos pagar aos bancos e ao estado?
Talvez a grosseria do 1º ministro faça assim algum sentido e deva ser levada à prática. Não disse ele que “o desemprego é uma magnífica oportunidade para o desempregado”? Aceite a premissa, é preciso levá-la até às últimas consequências. Num mundo em que o trabalho assalariado escasseia, talvez seja chegada a altura de lhe por fim. Ao trabalho, que raramente coincide com a actividade que cada um gostaria de exercer, e à opressão que lhe dá origem.
E imponha-se ao Dr. Coelho a sua receita. Que abandone o cargo, mergulhe no desemprego, descubra esse mundo de oportunidades de que fala e deixe-nos em paz. E não se esqueça de levar consigo todos os seus parceiros das mais variadas colorações partidárias, que nos exploram e oprimem, com o IMI, a crise e demais invencionices com que estrangulam as pessoas para que os bancos e os seus apêndices lucrem e sobrevivam.
Mas desta vez não vá bater à porta dos amigos capitalistas para o mimarem, como fez após terminar a licenciatura aos 30 e muitos anos (até aí sem registar qualquer actividade profissional…) quando, num assombroso reconhecimento dos seus méritos, foi nomeado administrador de 4 empresas.
Assim não vale, Dr. Coelho!

A Comuna - 1871: Paris, capital insurgida

A Comuna de Paris, um marco da emancipação social.

2 de Setembro 1870: o Imperador Napoleão III, imprudentemente envolve-se em guerra contra a Prússia e capitula em Sedan. A Republica é proclamada no Hôtel de Ville (Câmara). Os prussianos cercam a capital por longos meses, até ao armistício a 28 de Janeiro de 1871. Na Assembleia Nacional, eleita a 8 de Fevereiro, a maioria rural, conservadora, procura negociar a paz, mas Paris – que se defendeu valentemente – não se quer render. A situação é explosiva. Para evitar pressões populares na capital, a Assembleia Nacional foge para Versailles.
No princípio de Março Paris liberta-se a si própria. Um incidente precipita os acontecimentos. Adolf Thiers, chefe do poder executivo da República, ordena a retirada dos canhões que se encontram em Montmartre. A população opõe-se, uma parte da guarnição confraterniza com ela e dois generais são executados. Thiers decide então que o governo deixará Paris, instalando-se em Versailles. Nessa noite o comité central da Guarda Nacional instala-se no Hôtel de Ville. A eleição da Comuna efectua-se a 26 de Março e os seus membros instalam-se no Hotel de Ville perante uma multidão de dezenas de milhares de pessoas. Em dois meses numerosos decretos são promulgados. Uns de efeito imediato, como a liquidação dos contratos de aluguer, abolição do trabalho nocturno, interdição da retenção sobre o salário. Outros de efeito futuro: separação da Igreja e do Estado; instrução laica, gratuita e obrigatória; e organização do trabalho. Outras, emblemáticas, são adoptadas, como a destruição do símbolo imperialista da Coluna Vendôme. Nenhum membro da Comuna aufere salário superior ao de um operário especializado e pode ser destituído a qualquer momento. Entre os 83 membros eleitos havia 5 pequenos patrões, 14 empregados, 33 operários, 12 jornalistas, artistas e membros de profissões liberais também. Paris tinha 1.200.000 habitantes e 300.000 eram o verdadeiro sustentáculo do movimento, os “commmunards”.
Desde o início, conforme a tradição revolucionária, a população ergue inúmeras barricadas. Face á não criação de mais comunas nas restantes grandes cidades, os versalheses, apoiados pelos prussianos, que cercam Paris, atacam com 60.000 homens, sob o comando de Mac-Mahon e ordens de Thiers. A barbárie e a vingança foram terríveis. A “semana sangrenta” de 21 a 28 de Maio foi a mais cruel, com o massacre de 20.000 pessoas. A luta na defesa das barricadas dos bairros foi tremenda, mas vencida. Aos inúmeros mortos e feridos, terão de juntar-se multidões de prisioneiros seviciados, muitas vítimas de execução sumária e 4.500 desterrados para o campo de concentração da Caledónia, como Louise Michel, jornalista anarquista, regressada com muitos outros na amnistia de 1880, mantendo o espírito rebelde até ao fim da vida, em 1905. O seu funeral contou com 200.000 pessoas.
Ainda hoje a Comuna persiste na memória dos povos.   

Nova velhacaria dos “nossos” negreiros

Os nossos “queridos governantes”, que constituem com os “queridos capitalistas” uma boa réplica dos negreiros de séculos atrás, decidiram acelerar a barbárie com que esmagam diariamente o povo. Aflitos com o pagamento à Troika do nosso descontentamento, vão reeditar uma ordenação medieval para nos extorquirem já não os cereais, azeite, vinho e outros bens agrícolas medievos, espoliados aos camponeses de antanho, para que os amos abarrotassem as suas arcas senhoriais, mas sim os euros que os ataques desenfreados dos novos barões nos arrancam da carteira.
Assim exararam, tal qual os seus antepassados senhores de escravos, um novo édito absolutista legalizando a extorsão que exercem sobre nós. A partir de agora, todo aquele que tiver a infelicidade de não passar o crivo da apertada malha da legalidade fiscal arrisca pura e simplesmente dar com os costados no cárcere.
Mas, como lhes convém, essas medidas não se aplicam a todos os portugueses. Também aqui, há cidadãos de primeira e de segunda, amos e servos. Estes são os humilhados e oprimidos, que tudo sustentam e laboram sem descanso para que não faltem aos privilegiados as mordomias de que não prescindem. Por isso mesmo, os pobres e ofendidos poderão ser encarcerados, se não preencherem a papelada do IVA segundo ordens dos burocratas. Obviamente, os senhores das armas e do capital, que fazem as leis e as impõem, não correrão semelhante risco. Era o que faltava, “os senhores” não vão parar à prisão.
Tudo isto é bem demonstrado com o facto destas medidas carcerárias só se aplicarem às gentes de rendimento singular. Às empresas e aos seus proprietários, em particular aquelas de maior dimensão refugiadas em paraísos fiscais e escritórios de peritos nestas tramóias, não se aplica semelhante pena.
A arraia-miúda que rebente a trabalhar, na busca de emprego ou na sobrevivência possível, e pague os impostos forçadamente. Senão, resta-lhe um destino, o cárcere. E, para os mais pobres entre os pobres, os senhores do mando reservam um apoio, a sopa dos pobres por todo o país, uma esmola que consideram digna dos maiores encómios, enquanto escamoteiam as razões da miséria que lançam entre os famintos.
E assim vai este rincão. Um bando de embusteiros, seduzidos pelo poder, controla tudo, não se limitando á propaganda diária, acompanhada por abundantes bastonadas distribuídas entre os servos. Agora já nos metem na prisão por causa dos impostos, amanhã sabe-se lá mais porquê. A mente tortuosa dos novos negreiros não tem limites, quando se trata de manter e reproduzir as condições que permitem e reproduzem os seus privilégios e a nossa servidão.
Actualmente, já não nos despacham para o pelourinho, para as plantações das Américas e para as costas de África, como os seus antecessores ordenavam, a realidade presente não o permite. Nem tão-pouco para um novo Guantánamo, como fazem os seus mentores gringos, pese a cruel imitação da cadeia, dita de alta segurança, de Monsanto. Mas, agora, a cadeia já aguarda quem se engane no obrigatório preenchimento da papelada que assegura a pagamento de impostos dos trabalhadores. Mas nunca a prisão receberá os que nos enganam, que prometem o que não cumprem e nos saqueiam o presente e o futuro. Para esses o castigo é interdito.

Não são permitidas punições aos negreiros na pátria dos negreiros!