domingo, 23 de janeiro de 2011

o que queres fazer da puta da tua vida?

A Tertúlia Liberdade, em colaboração com o GAIA, inicia na próxima 5ª feira, dia 27, pelas 21H., na RDA, R. Regueirão dos Anjos, 57 (metro Anjos), uma série de debates mensais sob o tema "O que queres fazer da puta da tua vida?".
Iniciará o debate o convidado Marco Montenegro e queremos desenvolver este tema, perceber o queremos fazer no meio desta merda e como.

PARTICIPA !!! DIVULGA!!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Onda Livre de novo no ar

A "Onda Livre" o programa de rádio da Tertúlia Liberdade está de novo no ar. Escuta aqui:

Penúria alimentar

SOBRE A PENÚRIA NA ALIMENTAÇÃO


Quantos de nós se querem alimentar e não podem, passam fome ou comem alimentos impróprios para a saúde? Milhões em Portugal, biliões no mundo. Porque é que se destroem alimentos, enquanto tanta gente passa fome e luta com dificuldades para se alimentar? Porque é que se deita o peixe pescado ao mar, se deixa apodrecer a fruta e se abandonam os campos que poderiam produzir alimentos? Tantas perguntas e tão poucas respostas, para além da conversa da treta dos mercados, da crise e por aí fora. Tudo isso dito em tom que não admite resposta pelos políticos, economistas, propagandistas desta situação e outros simuladores da mesma espécie. Todos eles se apresentam bem nutridos, reluzentes, brilhantes e bem vestidos, e não fazem ideia do que são dificuldades. Embora todos nos assegurem que este é um problema muito complexo dos tais mercados, que todos ignoram menos eles, e é preciso apertarmos ainda mais o cinto para que venha aí um maná de prosperidade num futuro desconhecido..

É essencial combater esses aldrabões enfarpelados, as suas mentiras e falsas promessas, se quisermos sair do lodaçal em que esta corja nos mergulhou. Antes do mais, convém salientar que nesta organização social existente, o capitalismo, todos os actos dos capitalistas têm uma intenção fundamental, a obtenção de lucro. Ganhar dinheiro e ter segurança no capital investido, é o que interessa aos capitalistas, donos de super mercados, bancos, sociedades de investimentos, propriedades agrícolas, fábricas e todos os restantes factores de produção, de troca e financeiros. Essa gente é que decide, sem nos consultar nunca, o que devem fazer. Fecham fábricas, deixam os campos ao abandono, especulam, jogam na bolsa, fazem guerras e muito mais, com um único objectivo, o lucro, o seu guia, deus e senhor. Não lhes interessam as necessidades do povo, e o seu sofrimento. Limitam-se a controlar-nos, sobretudo com propaganda e repressão de toda a ordem. Prosperam a fazer promessas de um futuro distante e, quando muito, concedem-nos uma caridadezinha, sempre muito útil na ausência da justiça. Mas receiam a liberdade verdadeira, que acompanha a dignidade e a igualdade. Esta igualdade só está presente no voto, mas é uma miragem na justiça social, que os aterroriza. A igualdade e a propagandeada democracia são completamente ignoradas por exemplo no local de trabalho, na justiça e na distribuição da riqueza produzida. Esta sociedade apregoa-se democrática mas somos obrigados a obedecer a tudo o que querem os chefes e patrões e a suportar que essa gente do mando e da riqueza esteja cada vez mais rica, enquanto o povo fica cada vez mais pobre. Onde estão a liberdade e a justiça?

Essa gente do dinheiro joga, por exemplo, na Bolsa de mercadorias de Chicago, onde se transaccionam as matérias-primas do mundo inteiro. Podem comprar seja o que for, como o trigo a 20 euros a tonelada, mas nem sequer querem o trigo, é pura especulação. Ficam com um titulo de compra para dali a 1 ano, por exemplo, receberem esse trigo a 20 euros/tonelada e nem sequer o utilizam. Tratam de o revender a um preço mais elevado a outros especuladores, retirando lucros chorudos. Esses outros muitas vezes também vendem esse título de compra a um preço ainda mais elevado, ficando com a diferença, ou seja, obtendo bom lucro. E isto acontece inúmeras vezes. Resultado, o preço de 20/euros a tonelada acaba por ficar a 35 ou mais e muitos desses compradores ficam-se apenas pela especulação, nem sequer se servem da mercadoria real. Por isso os preços do trigo, como os de muitos alimentos, aumentam brutalmente e muitas pessoas não conseguem depois adquirir os produtos que tem o trigo como matéria-prima, casos do pão, das massas e tantos e mais. E isto passa-se com tudo, carne, peixe, fruta e por aí fora.

Mas também dentro de um país, como em Portugal, a especulação floresce e os bancos, que financiam os proprietários, na agricultura como outras fases da produção, pedem juros exorbitantes pelos empréstimos. Quem paga tudo isso? O consumidor naturalmente e por isso, aqueles de poucas posses, muitas vezes não conseguem alimentar-se devido aos preços elevados e aos baixos salários e reformas.

No meio de tudo isto o Estado apoia estes salteadores do povo, e invoca a crise e outras cortinas de fumo apenas com uma intenção, evitar que reivindiquemos aquilo que é nosso, fruto do nosso trabalho, passado e presente.

Alguns podem perguntar, mas não há leis que evitem isto? Há leis, claro, feitas e sobretudo aplicadas, pelos interessados em que tal estado de coisas se mantenha. Leis concebidas para defender estes exploradores e afastar-nos da defesa dos nossos interesses.

“Escolham os vossos representantes”, dizem os políticos profissionais, durante os períodos eleitorais, mas nós, que sustentamos toda a engrenagem com o nosso trabalho, não podemos alterar esta roubalheira, nem somos ouvidos quando eles concebem as leis do nosso descontentamento. A igualdade nesta democracia é só de 4 em 4 anos, perante o voto. E, no entanto, somos nós que temos produzido toda a riqueza ao longo dos séculos. O poder do estado é destinado a defender essa canalha. Já viram alguma vez a policia ir prender um capitalista que nos mente e explora? Mas se ocuparmos a fábrica em protesto, não faltam polícias para nos atacarem. E também nunca se viu um político profissional no desemprego.

A ligação entre os capitalistas e os chamados homens de estado é mais do que evidente, saltam a cada momento de um taxo do estado para o de uma companhia ou banco e vice versa, e defendem os mesmo tipo de interesses, ou seja, o domínio sobre o povo e a exploração.

É chegada a altura de reflectirmos sobre tudo isto, de dizermos basta! e agirmos de forma autónoma e livre. Antes que esta gente do dinheiro e do poder nos reduza a pão e água, para entregarem mais dinheiro aos bancos e manterem esta cruel e caduca organização social.

TERTÚLIA LIBERDADE


(Texto distribuído no Barreiro durante a acção do Comida!Bombas não.)

domingo, 12 de dezembro de 2010

No Barreiro com Comida! Bombas Não e Ritmos de Resistência


No domingo 5 de Dezembro, a Tertúlia Liberdade, deu inicio a um processo de intercâmbio e colaboração com o grupo Comida! Bombas não, do Barreiro. Esta foi a 1ª primeira etapa dessa cooperação. Outras se seguirão, havendo já proximamente uma vinda da Comida! Bombas, até nós, em Lisboa. Pensamos que outras iniciativas deste tipo se podem desenvolver, envolvendo grupos autónomos, libertários e específicos, numa cooperação necessária e desejável. Este foi o 1º passo.


Vários elementos nossos estiveram presentes no decorrer do almoço vegetariano fornecido pelos Comida! aos que passam fome, devido à miséria social que aumenta assustadoramente por todo o país, como sabemos. Mas, este não é mais um acto de caridadezinha, os voluntários do Comida! conversam com as pessoas, procuram explicar o que são o domínio e exploração capitalista, que dão origem estas situações e desigualdades, a par de um desperdício insultuoso e destruição de alimentos por razões de ganância e do lucro que tudo comanda. Os elementos da Tertúlia, também almoçaram com os amigos, integraram-se nesse espírito e falaram com as pessoas que visitavam o local ao ar livre, com uma simples cobertura,, apesar da chuva intensa. Foram feitas até algumas entrevistas para o nosso programa radiofónico "Onda Livre!”

Colaborando connosco estiveram presentes os Ritmos da Resistência, que tocaram os seus tambores, animaram o acontecimento e confraternizaram com todos.

Também, entregámos muitos sacos com roupa para ajudar os desempregados, sub- empregados e sem casa, presentes. Diversos textos da nossa Tertúlia, incluindo um sobre as origens das desigualdades e da penúria alimentar, foram entregues pela nossa Tertúlia.

Do diálogo estabelecido, levantou-se também a possibilidade de apoiarmos a criação de uma Tertúlia noutra localidade. Resumindo foi uma acção bem positiva.

sábado, 27 de novembro de 2010

Generalizar as práticas de luta

GENERALIZAR AS PRÁTICAS DE LUTA HOJE… E AMANHÃ

Em FRANÇA apesar de oito dias de acção consecutivos e de cerca três milhões e meio de pessoas nas ruas, as manifestações não nos permitiram ser devidamente ouvidos. Isto não é uma surpresa, mas muitos de nós já quase o tinham quase esquecido. Então surgiram em França por toda a parte bloqueios de refinarias, de centros de tratamento do lixo e de muitas outras empresas. Inquestionavelmente, a obstinação do Estado e das entidades patronais para impor a sua reforma levou o movimento social a recuperar práticas de luta desaparecidas há muito tempo.
O movimento social contra a lei das pensões de Reforma levou à redescoberta de práticas inter-sindicais de base, assentes na representatividade no terreno. Apesar das diferenças entre os vários sindicatos, muitos dos trabalhadores privilegiaram os seus interesses, preferindo desenvolver uma mobilização em conjunto, em vez de desfilarem atrás das bandeiras dos seus sindicatos.
Há muitos anos que as lutas eram sobretudo sectoriais ou por empresas. A mobilização contra a lei da Reforma permitiu a redescoberta de acções, onde se misturaram todos os ofícios e indústrias, cada uma apoiando o outro com um objectivo comum.
Muitas vezes apontada e desacreditada, a acção directa dos trabalhadores desenvolveu-se consideravelmente nas últimas semanas. No seu sentido original ou seja, longe da violência individual ou de um vanguardismo que nenhum efeito tem, mas sim organizando acções sindicais na base, sem esperar pela luz verde dos líderes e sem delegar em representantes que negociam sem tomar em conta a vontade dos trabalhadores e trabalhadoras.
As assembleias-gerais soberanas têm aumentado tanto no sector público como no sector privado e também as assembleias por sector ou interprofissionais para colectivamente decidir sobre a continuação ou não da greve e das acções, respeitando as decisões tomadas autonomamente pelos trabalhadores e seus colectivos de trabalho.
Quando os funcionários duma empresa não podem fazer greve todos no mesmo dia ou quando existem trabalhadores precários e isolados, os sindicatos têm tomado a iniciativa de constituir «fundos de greve» e promovido bloqueios feitos por companheiros vindos de outras empresas evitando assim penalizações para os trabalhadores da empresa bloqueada. Este movimento tem aumentado a consciência de classe frente ao patronato e ao Estado. Temos todos os mesmos interesses e somos todos solidários.
Ao contrário do que afirma a propaganda do Estado, as greves que se prolongam por mais dias e se estendem a mais regiões e os bloqueios de empresas não foram uma escolha dos trabalhadores, mas uma necessidade. As greves não podem ser reduzidas apenas a um dia com desfiles de rua controlados pelas forças policiais. A história ensina que os nossos direitos, as nossas conquistas sociais foram arrancadas (e não pedidas educadamente) por lutas muito difíceis utilizando geralmente como único meio à disposição dos trabalhadores e das trabalhadoras a greve e o bloqueio da produção no local de trabalho. Foi o que redescobrimos no movimento de luta contra a lei das Reformas. Será com estas práticas de ajuda, entre gerações e com base na acção colectiva e na solidariedade de classe, que conseguiremos ganhar no futuro.
Continuaremos a desenvolver no momento actual e daqui por diante a unidade sindical na base, a decisão colectiva em assembleias-gerais soberanas, para permitir que todos os grevistas se apropriem da luta. Continuaremos a acção colectiva de bloqueio de empresas e das estradas de acesso às áreas onde é produzida a riqueza. Continuaremos compartilhar informações sobre as lutas e iniciativas e sobre a solidariedade interprofissional. Continuaremos a constituir «fundos de greve» que nos permitam manter-nos e vencer. Continuaremos a convocar greves prolongadas no tempo ou rotativas de forma a bloquear a produção de riqueza e de lucros.
CNT-F (Confederação Nacional do Trabalho - França)
Tradução de Georges

sábado, 20 de novembro de 2010

Contra a Guerra Contra a NATO


A Tertúlia Liberdade, colectivo baseado na solidariedade, liberdade e auto-organização, enquanto defensora da autonomia, do anti-militarismo e do pacifismo, é contrária a todas as guerras e consequentemente contrária a todas as organizações militares como a NATO.

Por isso comungamos das reivindicações de todos aqueles que manifestam a sua indignação e protestam contra a reunião da organização militar - terrorista NATO em Lisboa destinada a implementar uma estratégia de ataque aos povos de todo o mundo.

Associamo-nos aos protestos participando na manifestação contra as guerras e a NATO, esta tarde na Avenida da Liberdade. Sob o lema com que satirizamos essa organização militar- terrorista "PASTEL DE NATA SIM, PACTO NATO NÃO".


Encontramo-nos hoje sábado, às 15 horas junto ao Diário de Notícias no Marquês de Pombal, de onde partiremos com flyers e pancartas com essa inscrição de forma autónoma. Convidamos todos os nossos amigos e amigas a participarem connosco nesta manifestação.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

a tertúlia na andaluzia com o sindicato de obreros del campo SAT/SOC


No fim-de-semana do 5 de Outubro tivemos a oportunidade de visitar alguns projectos andaluzes que se constituem com uma forma de organização diferente da maioria daquilo que conhecemos, tendo como traço comum a importância dada à organização democrática horizontal. Visitámos o SOC/SAT (Sindicato de Obreros del Campo e del Medio Rural de Andalucia/ Sindicato Andaluz de Trabalhadores), o município de Marinaleda e a cooperativa La Verde de Villamartín.

Partimos de Lisboa no Sábado de manhã e chegámos a Benamahoma ao final da tarde, onde ficámos alojad@s em casa de um companheiro conhecido de viagens anteriores. Uma recepção calorosa e pouco depois já estávamos à volta da mesa a beber vinho de produção local e a definir pormenores da nossa visita.

Domingo visitámos o rancho do Bartolo com as suas cabras, das quais retira o leite com que faz o tradicional queijo. O Bartolo é um homem de 86 anos que apesar da idade mantém intacta a lucidez política. Ele e o seu irmão, onze anos mais novo, contam-nos aquilo que acham da actual crise económica, indo muito além do que estamos habituad@s em terras lusas, através do questionar profundo do papel da banca e dos partidos políticos na actual crise. Para estes homens a especulação financeira, o papel da banca e do poder político no despoletar da crise são evidências que conhecem e discutem com profundidade exemplificando com o que se passou em Espanha. Depois da visita ao rancho, descemos da montanha e rumámos a Cádiz. A tarde de Domingo foi para visitar a cidade e apanhar sol na praia.

Na segunda-feira visitámos Marinaleda, onde o compa Rafa nos conduziu numa visita à povoação, respondendo as todas as nossas questões e abrindo-nos a porta de sua casa para que pudéssemos ver como são as casas auto-construídas de Marinaleda. Visitámos primeiro o Ayuntamiento, o orgão de poder local mais próximo das populações, algo como a junta de freguesia em Portugal. Aquilo que logo saltou à vista foi ver o gabinete do presidente, que em Portugal muitas vezes está pouco acessível, situar-se mesmo à entrada, de porta aberta. A sensação de proximidade e disponibilidade foi imediata. O nosso guia disse-nos que mais que uma sensação, a proximidade das pessoas com o governo da sua terra é real, pois sempre que necessário são convocadas assembleias-gerais para decidir sobre questões importantes no município. A qualquer pessoa é permitida a participação na assembleia.

Em seguida visitámos a cooperativa, onde de momento se processam os pimentos, e depois a quinta El Humoso, cujos 1200 hectares produzem tudo aquilo que a cooperativa vende, maioritariamente pimento, alcachofra, azeitona, azeite. A mecanização é evitada enquanto geradora de desemprego. Não deixam contudo de existir algumas máquinas, pois a cooperativa compete no mercado livre, onde as preocupações com o emprego e a qualidade de vida das pessoas são um valor subalterno.

Apesar do que já dissemos noutros textos sobre Marinaleda e o SOC, convém recordar que estes 1200 hectares que dão trabalho a 500 pessoas com um salário diário de 47€ são geridos de forma directa. Foram conquistados a um latifundiário que empregava apenas quatro pessoas deixando as terras ao abandono enquanto a população à volta morria de fome. Através da ocupação das terras e subsequente luta, foi possível devolver a terra à população para benefício de todos.

Ao voltarmos do campo, fomos almoçar no bar da União Local do SOC. Debaixo de uma aparência normal surgiam pequenos indícios de que algo diferente ali se passa. Algumas pessoas envergavam camisetas, ou t-shirts, com frases alusivas a outras lutas, como o caso dos Zapatistas no México. Se em Portugal isto também acontece, não acontece certamente com pessoas maduras do campo mas apenas com jovens activistas citadinos. Aqui, em Marinaleda, o sonho contínua vivo em todos e presente na realidade quotidiana. Outro indício foram os dois cartazes com informação alusiva à povoação. Um abordava os Domingos Vermelhos em que a população se reúne para trabalhar em conjunto em benefício da sua terra de acordo com o decidido em assembleia. O outro era um Pai Nosso camponês, em que se exaltava o amor à terra andaluza.
Findo o almoço, foi tempo de nos reencontrarmos com o Rafa para conhecermos as casas auto-construídas. Sendo ele um dos habitantes dessas casas, pode explicar-nos em primeira mão como funciona esta proposta habitacional. Qualquer pessoa que viva em Marinaleda há pelo menos quatro anos se pode candidatar a uma destas habitações. Se escolhida compromete-se a colaborar na construção da sua habitação, desde o seu início até que termine. Finda a construção, fica a pagar uma renda mensal que ronda os 15€ durante 20 anos. Para evitar especulação com a habitação, não é possível pagar adiantada a mensalidade e ficar com a propriedade da casa. O terreno de implantação é cedido pelo Ayuntamento e os materiais pela Junta da Andaluzia. As casas têm todas os mesmos traços gerais, para normalizar os gastos, sendo depois cada pessoa livre de acrescentar ou modificar partes da estrutura. A casa padrão tem cozinha, sala e quintal na zona térrea e três quartos no primeiro andar. Pareceu-nos um local aprazível para se viver, a preços muito acessíveis, sendo a habitação realmente um direito de quem vive em Marinaleda.

Terminado o tempo de visita, que foi muito mais curto do que aquele que nos permitiria entrar nos pormenores, rumámos em direcção a El Coronil para visitar o Centro Obrero Diamantino Garcia onde reúnem os activistas do SOC. Aqui explicaram-nos como o sindicato funciona e a experiência que têm tido com a actividade partidária. De lembrar que nos anos 80 o SOC criou um partido político, a CUT – Colectivo de Unidade dos Trabalhadores, que se inseriu numa plataforma de movimentos de esquerda, todos agrupados sob o nome de Izquierda Unida. À semelhança de Marinaleda, as decisões mais importantes são tomadas em assembleia geral, de certa forma como acontece com as cooperativas em Portugal, mas com a diferença de que na Andaluzia, fruto da cultura local, existem de facto inúmeras assembleias por ano. Enquanto El Coronil foi um município dirigido pela CUT manteve-se a mesma forma de funcionamento do SOC, sendo os/as vereadores/as eleitos/as executantes da vontade popular.

Um facto importante que nos foi relatado é a dificuldade existente em activar as camadas mais jovens da população, já que estas se apresentam na maior parte das vezes desinteressadas da luta política - política, não partidária, convém sempre frisar – a luta que lhes permitiu melhorar as suas condições de vida e permite ir respondendo aos ataques do capital, do despovoamento e da alienação. Mesmo assim o SOC tem feito inúmeros workshops sobre sindicalismo dirigidos aos mais jovens.

Outra experiência iniciada pelos vereadores ligados ao SOC foi a das hortas comunitárias para reformados. O município cedeu terrenos aos reformados que podem assim ocupar o seu tempo livre cultivando produtos hortícolas.

Finda a visita, voltámos à nossa base em Benamahoma, para a última noite antes do regresso e para conversas descontraídas à volta de música e vinho.

Terça-feira, foi o dia de visitar o último local a que nos tínhamos proposto, a cooperativa La Verde de Villamartín, onde uma acção de florestação há alguns anos torna possível um ambiente fresco mesmo em dias de sol outonal ainda quente. Espreitámos a estufa com as pequenas plantas a nascer, vimos o banco de sementes e conversámos com as duas padeiras, que preparavam a massa, cerca de 70 quilos, para vir a ser cozida no forno tradicional e que dará para os pedidos que lhes foram encomendados.


Foram horas mais descontraídas, em que o caminho de regresso e os planos que queríamos alinhavar nos começavam a ocupar mais a mente. Tempo de despedida de quem nos abriu as portas das suas casas e nos mostrou o espírito que anima os seus afazeres diários. Última oportunidade para nos imbuirmos desse mesmo espírito, dessa mesma garra e trazê-la para Portugal, para inspirar toda a gente que neste lado deseje construir uma vida assente na emancipação, participação e solidariedade.