sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O debate de Janeiro

No passado dia 27 de Janeiro iniciou-se na RDA 69 o ciclo de debates mensais promovidos pela Tertúlia Liberdade, todas as últimas quintas-feiras de cada mês neste local e subordinados ao tema "O que queres fazer da puta da tua vida?".

O convidado desta sessão, Marco Montenegro, começou por expor o seu ponto de vista salientando que na Europa, e no mundo dito "ocidental", perspectivar escolhas na vida, passa muitas vezes por escolher o que consumir, quando, como e com quem e o individuo atomizado tende a produzir a sua identidade numa relação intima com os objectos de consumo, que o definem e delimitam perdidas que foram as referências à comunidade, ao bairro, à relação com a terra e com o trabalho, num sentido de classe, proletário ou operário.
Mas hoje a sociedade da abundância, ou a abundância na sociedade, já não parece estar ao alcance de todos. A crise que se instalou já não é só económica mas também psicológica porque acabou-se o refúgio no consumo e as pessoas não sabem reagir ou ter uma capacidade crítica sobre os acontecimentos. Amestradas que foram para se atomizarem, não conseguem deslumbrar mais nada para além do círculo dos "mercados", problema e solução único; porque se esqueceram das velhas utopias socialistas que ensinaram às sucessivas gerações do passado que nada é conquistado e mantido sem muito sangue e suor colectivo.
A sobrevivência e a felicidade passam no cada um por si ou num sentir colectivo? As lutas recentes na Grécia, na França, Itália, Inglaterra e Ucrânia parecem indicar que existem outros caminhos que não passam pelo retomar do consumo numa sociedade de indivíduos atomizados. O convidado concluiu citando Emídio Santana «a nossa vida não é a simples fatalidade de existir mas de sermos agentes do nosso próprio processo histórico».
Seguiu-se um animado e participado debate entre as cerca de trinta pessoas presentes sendo de destacar o seguinte: assistiu-se à defesa das cooperativas de produção e distribuição alimentar como uma necessidade básica descurada pelo actual sistema, por contraponto à revolução política, que ninguém defendeu.
Insistiu-se na necessidade de um ensino capaz de preparar as pessoas para a autonomia em vez de para a servidão e o seguidismo. Ouviram-se denúncias, algumas na primeira pessoa, sobre o funcionamento perverso dos serviços sociais. Foram contadas histórias de outros lugares, nomeadamente de Barcelona, onde a auto-organização cooperativa animou e anima a vida de muita gente. Registou-se uma diversidade de participações e interesses e um bom clima de diálogo, que se pode melhorar e fazer enraizar.
O próximo debate, no dia 24 de Fevereiro, terá como convidado o André Vicente, participante que se voluntariou para animar o arranque das discussões.


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