Os nossos “queridos governantes”, que constituem com
os “queridos capitalistas” uma boa réplica dos negreiros de séculos atrás,
decidiram acelerar a barbárie com que esmagam diariamente o povo. Aflitos com o pagamento à Troika do nosso
descontentamento, vão reeditar uma ordenação medieval para nos extorquirem já não
os cereais, azeite, vinho e outros bens agrícolas medievos, espoliados aos
camponeses de antanho, para que os amos abarrotassem as suas arcas senhoriais, mas
sim os euros que os ataques desenfreados dos novos barões nos arrancam da
carteira.
Assim exararam, tal qual os seus antepassados
senhores de escravos, um novo édito absolutista legalizando a extorsão que
exercem sobre nós. A partir de agora, todo aquele que tiver a infelicidade de
não passar o crivo da apertada malha da legalidade fiscal arrisca pura e
simplesmente dar com os costados no cárcere.
Mas, como lhes convém, essas medidas não se aplicam
a todos os portugueses. Também aqui, há cidadãos de primeira e de segunda, amos
e servos. Estes são os humilhados e oprimidos, que tudo sustentam e laboram sem
descanso para que não faltem aos privilegiados as mordomias de que não
prescindem. Por isso mesmo, os pobres e ofendidos poderão ser encarcerados, se
não preencherem a papelada do IVA segundo ordens dos burocratas. Obviamente, os
senhores das armas e do capital, que fazem as leis e as impõem, não correrão semelhante
risco. Era o que faltava, “os senhores” não vão parar à prisão.
Tudo isto é bem demonstrado com o facto destas
medidas carcerárias só se aplicarem às gentes de rendimento singular. Às
empresas e aos seus proprietários, em particular aquelas de maior dimensão
refugiadas em paraísos fiscais e escritórios de peritos nestas tramóias, não se
aplica semelhante pena.
A arraia-miúda que rebente a trabalhar, na busca de
emprego ou na sobrevivência possível, e pague os impostos forçadamente. Senão,
resta-lhe um destino, o cárcere. E, para os mais pobres entre os pobres, os senhores
do mando reservam um apoio, a sopa dos pobres por todo o país, uma esmola que
consideram digna dos maiores encómios, enquanto escamoteiam as razões da miséria
que lançam entre os famintos.
E assim vai este rincão. Um bando de embusteiros, seduzidos
pelo poder, controla tudo, não se limitando á propaganda diária, acompanhada
por abundantes bastonadas distribuídas entre os servos. Agora já nos metem na
prisão por causa dos impostos, amanhã sabe-se lá mais porquê. A mente tortuosa dos novos negreiros não tem limites,
quando se trata de manter e reproduzir as condições que permitem e reproduzem os
seus privilégios e a nossa servidão.
Actualmente, já não nos despacham para o pelourinho,
para as plantações das Américas e para as costas de África, como os seus
antecessores ordenavam, a realidade presente não o permite. Nem tão-pouco para um novo Guantánamo, como fazem os
seus mentores gringos, pese a cruel imitação da cadeia, dita de alta segurança,
de Monsanto. Mas, agora, a cadeia já aguarda quem se engane no obrigatório preenchimento
da papelada que assegura a pagamento de impostos dos trabalhadores. Mas nunca a prisão receberá os que nos enganam, que
prometem o que não cumprem e nos saqueiam o presente e o futuro. Para esses o
castigo é interdito.
Não são permitidas punições aos negreiros na pátria
dos negreiros!
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