sábado, 16 de outubro de 2010

Por uma globalização favorável aos povos

UMA GLOBALIZAÇÃO FAVORÁVEL AOS POVOS, NÃO AO CAPITAL
O que constitui, de facto, a era actual da globalização? Há muito quem entenda que o ponto de partida da globalização é o intenso comércio entre as nações, intensificado pela abertura das fronteiras e o embaratecimento dos transportes. Mas o comércio entre as nações já existe desde que o capitalismo se tornou um sistema mundial. A particularidade que possui a actual fase capitalista, na área económica, prende-se com a chamada deslocalização e livre movimento de capitais, e, por isso mesmo, de investimentos. A deslocalização permite uma modificação estrutural: passar de uma lógica de intercâmbio comercial para uma estratégia estabelecida pelas companhias multinacionais, É assim possível sair de uma lógica de relações internacionais entre as nações para uma lógica das companhias multinacionais, e para uma forma nova de elaboração das mercadorias. Agora já não é só o capital que não tem pátria, também as pátrias não têm capital; uma parte das mercadorias são elaboradas num país e outras partes são-no noutros países.
Foi despedaçado o antigo espaço homogéneo do capital e do trabalho. O capital adquire cada vez mais uma característica fluida que o torna na aparência impossível de ser apreendido, a confrontação entre o trabalho e o capital encontra-se mediada por uma rede de complexas relações mercantis e por um aparelho jurídico que muitas vezes conseguem a sua diluição, mas, no entanto, a exploração existe como nunca na história.
Com tudo isto, o desenvolvimento capitalista, a burguesia nacional, o mercado interno, o capitalismo nacional, uma aliança entre as classes sociais, não são mais, actualmente, do que aspirações ultrapassadas e sem sentido. A pergunta que tem de se fazer não é, portanto, o que fazer com os pobres, mas sim como é que nos desembaraçamos dos ricos. Não são muitos e têm poucas raízes sociais.
Segundo informa o organismo da ONU para a alimentação, a FAO, cerca de 900 milhões de pessoas sofrem fome no mundo. Em cada 4 segundos morre uma criança, quer dizer que morrem 7.784.000 por ano. Na verdade, vivemos uma espécie de guerra mundial do capital contra as crianças. Enquanto isto, os gastos militares entre 2002 e 2007 foram de 2 biliões 1444 mil milhões de dólares e gastam-se anualmente 13 mil milhões de dólares na compra de perfumes nos EUA e na UE
Como dizia Segismund Freud, o estado tem o monopólio da injustiça. O estado proíbe um indivíduo de fazer uso da injustiça, não porque queira aboli-la, mas sim porque quer monopoliza-la. O estado beligerante permite-se todas as injustiças, todos os atropelos que desonrariam um indivíduo.
A globalização vigente foi facilitada pelos diversos estados, que atapetaram o percurso às empresas multinacionais, com uma desregulação e legislação feitas á medida para que as companhias possam aproveitar as necessidades e as diferenças existentes entre as diversas nações, de forma a reduzirem os custos e aumentarem os proveitos. Essas companhias sabem perfeitamente tirar partido de custos salariais mais reduzidos, assim como de leis laborais mais favoráveis ao capital, créditos mais baratos e incentivos variados, acompanhadas de legislação laboral, fiscal, ambiental, de expatriação de capitais e outras, que reflectem uma competição entre os estados para atrair o capital.
Tentar opor a esta realidade, um capitalismo nacional, tão ou mais explorador que o internacional, não tem sentido e chega a ser reaccionário. As empresas “nacionais”, são elas também internacionalizadas através das dependentes relações financeiras, económicas, comerciais, tecnológicas, entre outras.
O povo trabalhador para se emancipar terá de combater o poder das companhias multinacionais, que constituem o coração do capitalismo e necessita de gerar uma frente de apoio mútuo e solidariedade internacional com os seus colegas de outros países. Como resposta ao poder do capital, que se internacionalizou e tem uma estratégia global., as lutas nacionais terão de assumir uma atitude adequada, adoptando uma perspectiva internacionalista. A nossa luta é semelhante à dos trabalhadores franceses, dos camponeses espanhóis ou dos grevistas gregos. O adversário é o mesmo e hoje, quando na Europa o capital ataca os trabalhadores de toda a UE, não faz distinção de nacionalidades. Os capitalistas e os estados sabem que não lhes chega agravar a exploração dos trabalhadores de um só país europeu, tal agravamento só faz completo sentido se explorarem mais todos os outros. A igualização que eles pretendem é destruir por igual tudo aquilo que foi conseguido ao longo dos tempos através dos combates do proletariado. O que essa corja pretende é nivelar por baixo. O pretexto é a crise, a crise que eles criaram com as suas especulações e ambição, e agora exigem que sejamos nós a pagá-la. Mas não se ficam por aqui, com o apoio dos diversos governos, procuram retirar-nos tudo aquilo que tanto nos custou a conquistar.
Perante semelhantes manobras teremos de responder com uma luta enérgica, uma luta de carácter internacionalista. Através de processos que nos liguem aos nossos colegas da UE, que estão sofrendo os mesmo ataques que nós e a todos os trabalhadores do mundo.
Apenas uma globalização dos trabalhadores, do povo em geral, poderá vencer esta guerra, que os “senhores” do capital e do estado nos declararam. Estamos fartos do seu domínio, da sua exploração, da sua propaganda, dos seus papagaios, das suas guerras e das suas mentiras.
Queremos um mundo novo, livre e solidário. Só assim poderemos viver em paz. As guerras são uma consequência inevitável dos interesses do estados, agressivos pela sua própria natureza, e, hoje mais do que nunca, servos do capitalismo, que, de todas as formas, por mais cruéis que sejam, procura aumentar os seus lucros Como é o caso das guerras, de todas as guerras, que os povos sofrem, com as populações dizimadas e estropiadas e as cidades e os campos destruídos. Enquanto a guerra e a morte se abatem sobre os povos, os capitalistas lucram sempre! Através dos negócios de guerra em que se envolvem e ninguém controla, e com a militarização do trabalho e de toda a sociedade, em que todos somos obrigados a obedecer sem recalcitrar. A guerra é um benefício para o capital, por isso as guerras não cessam.
A essa estratégia de guerra teremos de opor uma bússola para a paz. Começando por estabelecer contacto e apoio mútuo com os nossos colegas estrangeiros e deste modo apercebermo-nos que também eles vivem situações semelhantes à nossa. Também eles são submetidos ao domínio e exploração do capital e restringidos na sua liberdade quando o estado bem entende.

A solidariedade internacionalista é o caminho que teremos de seguir para nos opormos consequentemente à guerra que nos foi declarada pelo estado e pelo capital. E só através dessa solidariedade será possível atingir a paz.
Texto distribuido na iniciativa Vamos à Luta que decorreu quinta-feira no Largo de S. Domingos em Lisboa.

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