No início de Outubro elementos da Tertúlia Liberdade deslocaram-se até à Andaluzia para conhecer de perto a experiência do sindicalismo alternativo praticado pelo Sindicato Andaluz dos Trabalhadores (SAT). O SAT é o herdeiro actual de uma longa tradição de luta, nascida ainda no tempo do franquismo, entre os jornaleiros dos campos da Andaluzia e aglutina de forma autónoma e muito combativa 20.000 associados maioritariamente trabalhadores assalariados do campo e pequenos camponeses. Não está filiado em qualquer central sindical, embora tenha conexões com a Confederação Geral do Trabalho (CGT).
Na sua origem está o Sindicato dos Operários do Campo e Meio Rural da Andaluzia (SOC-MRA) fundado em 1976 a partir das Comissões de Jornaleiros, que existiam nas aldeias e povoados, continuando na sua matriz bem viva a tradição libertária do jornaleiro andaluz consubstanciada por exemplo na recusa de eleições sindicais e na prática da acção directa.
Mas a acção do SAT-SOC não se esgota na luta sindical e estende-se hoje às autarquias marcando presença em muitos municípios. Graças à sua grande implantação dirige vilas e aldeias, promove a auto-construção de casas (proporcionando habitações extremamente baratas e confortáveis com rendas entre 15 e 30 Euros mensais), dinamiza explorações agrícolas e fábricas onde existe de facto um autêntico espírito cooperativo. O SAT-SOC funciona de uma forma assemblária e participada defendendo a identidade camponesa das muito exploradas gentes do meio rural da Andaluzia, uma nação com área semelhante à de Portugal e cerca de 8,5 milhões de habitantes, onde a estrutura fundiária predominantemente é o latifúndio.
O SAT-SOC sempre promoveu ocupações de terras e lutas de carácter radical contando com um número muito reduzido de profissionais sindicais. Nos últimos meses sindicalistas do SAT-SOC desenvolveram uma luta intransigente em defesa dos trabalhadores contra o desemprego e a precariedade que contou com inúmeros protestos de rua e ocupações.
As mais mediáticas foram sem dúvida a ocupação da estação de televisão andaluza Canal Sur, o desvio da Volta à Espanha em bicicleta e o corte da circulação do comboio de alta velocidade em Sevilha. Um pouco por toda a Andaluzia dependências bancárias, centros de emprego e delegações do governo foram locais por onde passou a luta dos sindicalistas do SAT-SOC.
O culminar destas lutas aconteceu com a grande manifestação de 4 de Outubro em Sevilha onde se exigiu a Greve Geral. Segundo os organizadores desfilaram nas ruas mais de 15 mil pessoas. Nós, Tertúlia Liberdade, também estivemos lá. Actualmente o SAT-SOC, em conjunto com outras organizações, prepara essa Greve Geral recusando que sejam os mesmos de sempre a pagar a crise engendrada pelo capitalismo.
Por tudo isto são perseguidos pelo governo do PSOE, como foram por todos os outros governos anteriores e enfrentam uma série de ataques que passam pela repressão, processos judiciais e por tentativas de corrupção dos seus dirigentes. No entanto a resistência e os apoios locais são de grande dimensão e nada parece conseguir dominar a tenacidade dos trabalhadores da Andaluzia.
Isto é surpreendente, principalmente se considerarmos que se trata de uma organização bem enraizada no meio rural que procura agora estender a sua influência ao meio urbano sem abdicar da sua luta contra o sistema. Uma luta consequente e sem transigências baseada em princípios herdados do antigo anarco-sindicalismo dos campos da Andaluzia hoje reforçados com a defesa da identidade andaluza.
A constatação que fizemos destes factos levou-nos a decidir divulgá-los e iniciar um trabalho de reflexão sobre este exemplo de luta desconhecido em Portugal. Assim dividimos o nosso trabalho em 3 fases: Interpretação, Divulgação e Apoio. Estamos a iniciar a primeira fase e necessitamos da colaboração de pessoas que nos possam ajudar a perceber o que ali acontece. Por exemplo as diferenças em relação ao sindicalismo em Portugal ou as diferenças relativamente ao Alentejo, que com uma estrutura fundiária semelhante, teve uma evolução bem diversa.
Vimos assim dirigir um convite a todos que, no imediato, nos possam ajudar a interpretar esta realidade e que eventualmente queiram colaborar nas fases posteriores. A ideia que temos é de tentar uma aproximação que pode ser consubstanciada nesta expressão: «A sobre-exploração no século XXI e a resposta revolucionária – o exemplo do SAT-SOC na Andaluzia».
Fotografias:
A Tertúlia Liberdade na Andaluzia
Manifestação de 4 de Outubro
A Utopia de Marinaleda
Em El Coronil com o Secretário-geral do SAT Diego Cañamero
Na sua origem está o Sindicato dos Operários do Campo e Meio Rural da Andaluzia (SOC-MRA) fundado em 1976 a partir das Comissões de Jornaleiros, que existiam nas aldeias e povoados, continuando na sua matriz bem viva a tradição libertária do jornaleiro andaluz consubstanciada por exemplo na recusa de eleições sindicais e na prática da acção directa.
Mas a acção do SAT-SOC não se esgota na luta sindical e estende-se hoje às autarquias marcando presença em muitos municípios. Graças à sua grande implantação dirige vilas e aldeias, promove a auto-construção de casas (proporcionando habitações extremamente baratas e confortáveis com rendas entre 15 e 30 Euros mensais), dinamiza explorações agrícolas e fábricas onde existe de facto um autêntico espírito cooperativo. O SAT-SOC funciona de uma forma assemblária e participada defendendo a identidade camponesa das muito exploradas gentes do meio rural da Andaluzia, uma nação com área semelhante à de Portugal e cerca de 8,5 milhões de habitantes, onde a estrutura fundiária predominantemente é o latifúndio.
O SAT-SOC sempre promoveu ocupações de terras e lutas de carácter radical contando com um número muito reduzido de profissionais sindicais. Nos últimos meses sindicalistas do SAT-SOC desenvolveram uma luta intransigente em defesa dos trabalhadores contra o desemprego e a precariedade que contou com inúmeros protestos de rua e ocupações.
As mais mediáticas foram sem dúvida a ocupação da estação de televisão andaluza Canal Sur, o desvio da Volta à Espanha em bicicleta e o corte da circulação do comboio de alta velocidade em Sevilha. Um pouco por toda a Andaluzia dependências bancárias, centros de emprego e delegações do governo foram locais por onde passou a luta dos sindicalistas do SAT-SOC.
O culminar destas lutas aconteceu com a grande manifestação de 4 de Outubro em Sevilha onde se exigiu a Greve Geral. Segundo os organizadores desfilaram nas ruas mais de 15 mil pessoas. Nós, Tertúlia Liberdade, também estivemos lá. Actualmente o SAT-SOC, em conjunto com outras organizações, prepara essa Greve Geral recusando que sejam os mesmos de sempre a pagar a crise engendrada pelo capitalismo.
Por tudo isto são perseguidos pelo governo do PSOE, como foram por todos os outros governos anteriores e enfrentam uma série de ataques que passam pela repressão, processos judiciais e por tentativas de corrupção dos seus dirigentes. No entanto a resistência e os apoios locais são de grande dimensão e nada parece conseguir dominar a tenacidade dos trabalhadores da Andaluzia.
Isto é surpreendente, principalmente se considerarmos que se trata de uma organização bem enraizada no meio rural que procura agora estender a sua influência ao meio urbano sem abdicar da sua luta contra o sistema. Uma luta consequente e sem transigências baseada em princípios herdados do antigo anarco-sindicalismo dos campos da Andaluzia hoje reforçados com a defesa da identidade andaluza.
A constatação que fizemos destes factos levou-nos a decidir divulgá-los e iniciar um trabalho de reflexão sobre este exemplo de luta desconhecido em Portugal. Assim dividimos o nosso trabalho em 3 fases: Interpretação, Divulgação e Apoio. Estamos a iniciar a primeira fase e necessitamos da colaboração de pessoas que nos possam ajudar a perceber o que ali acontece. Por exemplo as diferenças em relação ao sindicalismo em Portugal ou as diferenças relativamente ao Alentejo, que com uma estrutura fundiária semelhante, teve uma evolução bem diversa.
Vimos assim dirigir um convite a todos que, no imediato, nos possam ajudar a interpretar esta realidade e que eventualmente queiram colaborar nas fases posteriores. A ideia que temos é de tentar uma aproximação que pode ser consubstanciada nesta expressão: «A sobre-exploração no século XXI e a resposta revolucionária – o exemplo do SAT-SOC na Andaluzia».
Fotografias:
A Tertúlia Liberdade na Andaluzia
Manifestação de 4 de Outubro
A Utopia de Marinaleda
Em El Coronil com o Secretário-geral do SAT Diego Cañamero
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