A Greciarização do nosso país prossegue a
grande velocidade. Com aumentos da TSU, ou do IVA e do IRS. Com cortes de toda
a ordem sobre os salários e as pensões de reforma. Com a abolição de apoios
sociais, na saúde como na educação, no apoio às crianças como aos deficientes,
a estratégia de empobrecimento do povo português mantém os seus contornos e
acelera-se. "Para salvar a economia nacional", berram os políticos
actualmente de serviço, numa gritaria ensurdecedora, sem que jamais definam aquilo
de que estão a falar, sempre envoltos em estatísticas e linguagem em politiquês
e economês, para que aqueles que os sustentam, os humilhados ofendidos de ontem
e de hoje, não percebam o que se esconde por detrás dos corriqueiros e
dissimuladores discursos grandiloquentes dos políticos profissionais. Ou seja,
a transferência do rendimento dos trabalhadores para as mãos dos capitalistas.
"Não há nenhuma outra saída",
repetem exaustivamente os propagandistas de todos os matizes. E, não
satisfeitos, injuriam-nos até à náusea, "Assumimos um compromisso que
temos a obrigação de respeitar", como se a dívida estatal fosse semelhante
à divida de uma família. Repisando constantemente as falsidades com que nos
perseguem, "Precisamos de pagar aquilo que devemos". "Sim",
insistem os propagandistas, "necessitamos desses empréstimos externos para
custear as despesas indispensáveis, como os salários dos funcionários e as
pensões de reforma"... Quase sempre concluindo, cinicamente, "Os
portugueses consumiram acima das suas possibilidades".
Hoje, mais do que nunca, temos de desmascarar
este cortejo de falsidades. Quando essa corja diz que "tem de cumprir os
compromissos assumidos", mente de forma vergonhosa. Qualquer compromisso,
destinado ao pagamento da dívida externa de um estado, pode ser renegociado ou
anulado, como tem acontecido inúmeras vezes com os mais diversos países. A
Alemanha, por exemplo, só agora acabou de pagar as indeminizações com que se
comprometeu, depois de ter perdido a 2.a Guerra Mundial. E os EUA têm pago a sua
gigantesca e sempre crescente dívida externa, quer com mais dívidas, quer com
pagamentos faseados ao longo de 60, 70 e mais anos - num processo habitual, que
se traduz no não pagamento de facto, devido à desvalorização do dólar num
período tão alargado. Mais recentemente, a Islândia, por seu turno, graças à
pressão do seu povo (contrária ao desejo dos políticos do país), forçou a
renegociação das condições de pagamento da dívida externa que passa a ser paga
por um período de 70 anos e praticamente sem juros. E ainda conseguiram obter
uma moratória, que lhes permite não efectuar qualquer pagamento naqueles anos
em que o PIB do país não apresente crescimento.
Porque será que estes simuladores
profissionais da política têm tanta preocupação com as obrigações contraídas
com o pagamento da dívida externa, mas não apresentam a mínima preocupação para
com os compromissos que assumiram perante o povo do seu país? Não será porque,
para esta corja, só interessa honrar aqueles compromissos que se traduzem em
benefícios para o capital e os seus sequazes, e perdas para a população?
E, quando demagogicamente nos martelam os
ouvidos com a necessidade desses empréstimos para pagarem, entre outras coisas,
os salários e as pensões, abusam da credulidade popular. Recordo que, quando o
governo anterior se dirigiu, de chapéu na mão, a mendigar empréstimos aos
usurários internacionais, agora representados pela Troika, o PIB português
ultrapassava os 180.000 milhões de euros. Hoje já é mais reduzido, porque as
medidas impostas pelos sovinas da banca conduzem inevitavelmente ao
empobrecimento daqueles infelizes povos que, como nós, lhes caem nas garras.
Afinal, o que essa corja pretende é assegurar o pagamento atempado dos
empréstimos, concedidos sob a chantagem da obediência e sobretudo o pagamento
dos juros leoninos que conseguem extorquir às suas vítimas. E que, no caso
português, representam 9.000 milhões de euros/ano, ou seja, a rúbrica de maior
montante dos gastos orçamentais do estadoportuguês é constituída pelo pagamento
desses juros... Andamos a empobrecer e a trabalhar, aqueles que ainda encontram
trabalho, para encher os cofres de semelhantes agiotas e dos seus sequazes
nacionais, ou seja, aqueles que jamais são afectados pelos sacrifícios que
tanto apregoam... para os outros. Convém lembrar que nunca um país conseguiu
livrar-se deste fardo da dívida externa e dos respectivos juros usurários,
recuperando a situação anterior à da pretensa ajuda. Excepto um, o Chile de
Pinochet, que após 20 anos de mortífera ditadura, melhorou os indicadores
macroeconómicos, mas agravou enormemente o fosso entre as classes sociais.
Quanto à balela de "consumirmos acima
das nossas possibilidades", é também indispensável desmascará-la. Esses
gajos do poder dos diversos governos fizeram, e continuam a fazer, os gastos
mais mirabolantes e desnecessários sem jamais nos prestarem contas. Gastam o
dinheiro que nos conseguem extorquir através dos impostos, juntamente com
aquele outro que pedem aos usurários e nós pagamos, da forma que bem entendem.
E jamais nos prestam contas, sempre protegidos pelo abstruso "segredo de
estado". O povo não é ouvido nem achado sobre as despesas que essa
pandilha faz naquilo que bem entende. Nunca nos prestam contas, mas quando
chega a hora de pagar, somos nós que temos de suportar os resultados das suas
manigâncias, das suas inúteis negociatas, lucrativas para poucos e ruinosas
para a maioria, e dos seus elefantes brancos. Hoje, quando o sistema
capitalista sobrevive ligado à máquina estatal, que lhe proporciona os lucros ambicionados
graças ao domínio e exploração que, mais do que nunca, exercem sobre o povo, é
que se lembram de nós. Para pagar os seus desmandos e ganância.
Fazem acordos, como o da Troika, e nós nem
sabemos qual o montante e condições de pagamento, de que forma contraíram esse
empréstimo e quais as condições impostas para o pagar. Somos meramente
utilizados para os enriquecer. Quem gastou à tripa forra foram os sucessivos
governos e os seus mentores do capital, em investimentos e mescambilhas feitas
nas nossas costas, acompanhados por um apelo desenfreado ao consumo sem sentido
que os bancos com as suas pretensas facilidades de crédito promoveram a seu
belo prazer.
E
actualmente, ainda por cima, vociferam que consumimos acima das nossas
possibilidades? Belo exemplo da hipocrisia e falsidade dos parasitas da
política profissional que, eles sim, gastam acima das possibilidades do povo
que os sustenta. Só uma luta constante, e de cariz internacionalista, nos pode
salvar do destino anunciado por estas políticas, ou seja, o empobrecimento e a
degradação das condições de vida da população. E só uma luta fundamentada numa
perspectiva de combate solidário, que aponte caminhos para uma nova organização
social, em que o paradigma do lucro, hoje hegemónico, seja substituído pela
cooperação e pela satisfação das necessidades, nos pode fazer escapar em
definitivo do abismo para o qual o capitalismo conduz o povo.
Sem comentários:
Enviar um comentário